INQUIETAÇÃO
Quando me apresentam
Este prato cheio de coisa nenhuma
E o dizem suficiente
Percebo o receio
Dos que se contentam
Com quem lhes mente
Quando a vida os apruma
Porto, 10 de novembro de 2021
INQUIETAÇÃO
Quando me apresentam
Este prato cheio de coisa nenhuma
E o dizem suficiente
Percebo o receio
Dos que se contentam
Com quem lhes mente
Quando a vida os apruma
Porto, 10 de novembro de 2021
Até porque está na moda, faço a as seguintes declarações de interesses: sou militante do Partido Socialista e sou Advogado; uma condição não anula a outra: se por esta última faço vida dos problemas dos outros, aquela é uma das melhores formas que encontrei para o que me parece mais importante no meu devir, leia-se, tudo fazer para diminuir os problemas dos meus concidadãos.
Questão prévia: infelizmente, a questão sobre a qual me proponho
pensar tem um lastro indesmentível: as Ordens Profissionais deixaram-se (auto e
hétero) enlevar com demasiada facilidade ao estatuto de Oposição aos Governos (especialmente
ao atual e ao que o antecedeu) e a tentação natural de lhes colocar a pata em
cima (passe a expressão) é quase óbvia… porém, não foi para isso que elegemos
duzentos e trinta Deputados à Assembleia da República!
Mesmo concordando que (desde a execrável bastonária da Ordem
dos Enfermeiros ao sempre presente (para maldizer) bastonário da Ordem dos
Médicos, ao – lamentavelmente! – mais preocupado em ser arauto do PSD que Bastonário
dos Advogados que tem sido o bastonário da Ordem dos Advogados) os
representantes eleitos das Ordens Profissionais têm extravasado em demasia as
suas funções, a verdade é que não é pela lei da rolha ou por criar dentro delas
órgãos com forte influência do Estado e não dos seus associados que passa a
solução dos problemas: a Liberdade sempre se fez pela libertação e jamais se
alcança pela tentativa de normalização das grilhetas, sejam elas quais forem!
Isto posto, várias críticas me merecem o Projeto de Lei n.º 974/XIV/3.ª, apresentado pelo Partido de que sou militante:
1. Pela
positiva:
a. O
facto de se ter alguma mão – finalmente! – na proliferação das Ordens Profissionais:
cresciam como cogumelos e é bom que se perceba que só fazem sentido quando de facto,
fazem sentido;
b. O
facto de se prever que a (sic) “a fiscalização sobre a atuação dos seus
membros no âmbito das suas funções, para efeitos de exercício do poder
disciplinar, podendo estabelecer protocolos com os competentes serviços de
fiscalização e inspeção do Estado”: irrelevante – espero – no contexto das Ordens
dos Advogados e dos Solicitadores e Agentes de Execução, pode ser muitíssimo
importante para que essa fiscalização seja atempada e assertiva em outras Ordens
Profissionais;
c. O
facto de – v. a nova redação do artigo 8º, nº 1, alínea d) – se obrigar à
abertura de estágios pelo menos uma vez por ano: nada justificava que se
deixasse à discricionariedade das Ordens quando poderiam entrar novos
profissionais no mercado de trabalho;
d. A
previsão de que, na fase formativa do estágio profissional não devem ser ministradas
matérias que as faculdades têm por obrigação ter ensinado (v. o novo
número 6 do artigo 8º): pensado na dos Advogados, deve ensinar-se Deontologia e
as demais ferramentas que sejam novas; repetir o que o candidato à Advocacia já
deveria saber sempre foi algo que critiquei e que, agora, se vê corrigido;
2. Pela
negativa:
a. a
colocação da representação e defesa dos interesses gerais da profissão que lhes
está acometida ao serviço do quadro o respeito dos direitos e interesses gerais
dos destinatários dos serviços: o que se faz (com péssima técnica
legislativa) é retirar às Ordens aquilo que era sua função imanente e que
estava na alínea a) do nº 1 do artigo 5º da LAPP: atribuir-lhes, prima facie,
(sic) “a defesa dos interesses gerais dos destinatários dos serviços”;
isto não é inocente, obviamente, mas a verdade é que é um mau caminho: as
Ordens deixam, doravante, de poder dizer ser sua atribuição defender os
clientes dos utentes das profissões que representam e isso é péssimo para a
cidadania!;
b. a
redação nóvel do número 3 do artigo 5º: a retirada da expressão “que não
estejam previstas na lei” é de uma gravidade que só se compreende pelo que
deixei dito em 2.a.: como as Ordens deixam de ter atribuições de defesa dos clientes
dos seus profissionais, deixam de ter suporte ético para o exercício de algo
que só se explicava por aí; na verdade, as restrições de acesso às profissões
só se justificavam porque estavam ao serviço da boa prestação de serviços aos
cidadãos; se isso deixa de ser preocupação das Ordens, começa o regabofe;
c. a
diminuição do período de estágio para um máximo de um ano: tenho o privilégio
de ter patrocinado já alguns estágios e tenho por medida o facto de um deles me
ter pedido para prorrogar o estágio por mais seis meses por entender que o tempo
do estágio não era suficiente para o que entendia que deveria aprender; falando
só da Advocacia, tenho por certo que um ano entre a inscrição e a obtenção de cédula
profissional é manifestamente insuficiente para que alguém possa dizer que apreendeu
o necessário do quão diferente é ser-se jurista de ser-se advogado; quem perde? Obviamente,
os clientes desses futuros advogados que não os terão preparados e com bases
sólidas numa profissão que tem tanto de difícil quanto de bela; mas isso (volto
ao mesmo) importa pouco: às Ordens Profissionais já não compete “a defesa
dos interesses gerais dos destinatários dos serviços”; infelizmente;
d. a
circunstância de (sic – v. o novo número 8 do artigo 8º) “A avaliação
final do estágio é da responsabilidade de um júri independente, que deve
integrar personalidades de reconhecido mérito, que não sejam membros da
associação pública profissional.”; perdoem-me a franqueza, quem melhor que
um Advogado pode avaliar se um candidato a sê-lo está preparado para que se lhe
entregue uma cédula profissional? Concordaria que tivessem de ser membros do Júri
Juízes, Procuradores e/ou (com mais reserva) Professores de Direito; excluir os
Advogados do processo é uma indignidade para com os próprios candidatos!;
e. o
Provedor: não me incomodaria se não fosse previsto ser designado de entre
uma pré-escolha pela (sic) “entidade pública responsável pela defesa do
consumidor”… o Estado decide quem lá quer e o Bastonário só escolhe quem
lhe parece melhor de entre os três? Uma aberração!;
f.
O órgão de supervisão (v. o novo artigo
15º-A): e este em vários planos
i.
Desde logo, nas suas funções: regular não
é decidir sobre recurso de decisões disciplinares: isso é julgar (mesmo que em
recurso); regular não é reconhecer habilitações de estrangeiros: isso é tarefa
executiva e deve caber aos órgãos executivos; regular não é (não poder ser!)
ter o direito exclusivo de pronúncia sobre questões como a fixação de atos (que
devam ser) exclusivos das profissões, ainda para mais quando da sua composição
não consta uma maioria de Advogados;
ii.
na sua
composição: ainda para mais num momento em que tanto se fala (não sei se
bem!) da diminuição dos não juízes e dos não procuradores dos respetivos
Conselhos Superiores, inverter-se a lógica para as Ordens, a dos Advogados à cabeça, não se compreende!;
iii. Na sua incapacidade prática: alguém imagina possível que um órgão como o órgão de supervisão pode manter o mesmo nível de produtividade que até até aqui tem o Conselho Superior da Ordem dos Advogados (onde, sozinho, tramitei mais de duzentos processos em três anos, mas onde era um em vinte e um membros) sendo reduzido para sete membros e com funções mais abrangentes do que aquelas que tem o atual órgão de jurisdição máxima da OA? Não brinquemos com coisas sérias!
3. Sobre
um ponto não tenho opinião formada e confesso que não me sinto capaz de
defender uma dama ou a outra: a possibilidade das chamadas sociedades
multidisciplinares… sei que me socorro frequentemente de médicos,
contabilistas, revisores oficiais de contas, de arquitetos ou engenheiros para
o exercício da minha profissão: não os quereria para meus sócios (porque o
segredo profissional é demasiado sagrado para que possa prescindir dele por
força de um contrato de sociedade a favor de quem não o tem por força da lei);
mas a verdade é que, salvaguardado o segredo, elas até podem ser uma forma de
garantir melhores serviços… confessadamente, não sei o que pensar do assunto… No entanto, o facto de se garantir a possibilidade
de serem (sic – v. o novo artigo 27º, nº 4) “sócios, gerentes
ou administradores das sociedades [multidisciplinares] pessoas que não
possuam as qualificações profissionais exigidas para o exercício das profissões
organizadas na associação pública profissional respetiva (…)” faz-me
francamente temer o pior: pensando na Advocacia, como se salvaguardam os valores
essenciais da Profissão quando o patrão não tem de comungar deles e visa
exclusivamente que a sua sociedade dê lucro? Acho que andamos a brincar e
que quem pensou esta alarvidade não conhece o conceito de caixa de Pandora…
Em suma, o cômputo geral é
dececionante, senhores Deputados proponentes:
· é preciso proteger mais os clientes? Sem dúvida!
Mas faça-se isso em colaboração, não em oposição…
· é preciso garantir o fluxo rápido dos alunos das
faculdades para o mercado de trabalho? Até dou de barato que sim… porém, algum
dos Senhores Deputados entregaria a sua Liberdade ou a sua Fazenda a um
advogado licenciado em quatro anos e com um “amostra” de estágio de pouco mais de (na prática) seis meses? É óbvio que não! Mas também é óbvio que estão a entregar a Liberdade e a
Fazenda dos que precisam dos Advogados que prestam o chamado patrocínio oficioso
tanto aos que cá estão e estão preparados como aos que aí vêm e que jamais
estarão!
· é preciso democratizar a supervisão as Ordens? Com
certeza! Mas, então, faça-se isso através de verdadeira supervisão, não através
de mecanismos de controle estadual de que ninguém efetivamente precisa!
Tendes tempo para melhor…
esperemos que o saibais aproveitar!
No primeiro
momento, pensando no referendo a que todos vamos ser chamados a intervir, no
próximo dia 30 de junho, pendi para o “não”…
O meu cenário
inicial era o seguinte: algumas pessoas cuja convivência me fez confiar com
dificuldade nos seus propósitos apresentaram uma pergunta que divide ainda mais
a Ordem (entre novos e velhos, ricos e pobres, advogados em prática individual
e advogados em sociedade e/ou advogados de empresa) e que, tristemente, poderia
deixar os meus Colegas (mais) velhos em maus lençóis: o resultado da pergunta
feita, no extremo, pode ser que os que estão reformados e os que estão a
caminho da reforma deixem de receber a sua pensão: saindo os mais novos que
eles (e que são quem as paga, todos os meses), as pensões dos mais velhos não
teriam de onde vir.
E isso teria
implicações sérias: a uma distância já não de quinze ou vinte anos, mas antes a
uma de três ou quatro, a CPAS estaria falida…
E este foi o
primeiro abalo no meu raciocínio: os dados atuariais que a CPAS divulga demonstram que, sem mexidas sérias nas fontes
de financiamento da CPAS (ou seja, sem aumento de contribuições e/ou de
contribuintes), em quinze ou vinte anos aquele “monstro sagrado” vai ser
incapaz de gerar as receitas necessárias para pagar as pensões a que está
obrigado: vai falir!
Ora, se vai
falir (e vai!), porquê aguentar por mais tempo uma instituição que serve pouco
os Advogados que são a maioria (os que ganham pouco, mas não deixam de ser – e querer
ser! –Advogados por isso; as Advogadas que querem ser mães e terem os mesmos
direitos que têm as demais profissionais liberais recém-mamãs; os que acham que,
se pagam impostos e contribuem para um sistema de previdência, ela tem de ter
qualquer coisa – muita coisa! – de assistencial em momentos de prevalência de
doença, especialmente doença prolongada), apenas servindo para (passe a
expressão) engordar “barões, baronetes e afins” de uma Advocacia que com a
mania que é elite, esquecendo que, antes do mais, deve ser (e querer ser)
servidora do Estado de Direito e dos Direitos Liberdades e Garantias?
E este foi o
segundo abanão que apanhei: quando veio aquele “licenciado-em-direito-que-deve-ter-uma-cédula-igual-à-minha”
tratar-me por tu, numa soberba indecente e numa total ausência de sentido de
colegialidade (quanto mais, como se exigia, de solidariedade intergeracional),
própria daqueles que vivem confortavelmente à sombra do que a CPAS lhes permite
e que não permite a milhares de Advogados eu calei, mas não gostei.
Não gostei
porque percebi claramente que esta CPAS só interessa a dois tipos de Advogados:
os que estão reformados (que, infelizmente com legitimidade, temem pela sua
sobrevivência) e os que ganhando para descontar mais do que EUR 251,00 por mês,
se refastelam na possibilidade que só a eles é dada de “descontarem pelo
escalão que lhes apetecer”…
Não interessa,
definitivamente, aos milhares de Advogados que ganham menos do que o equivalente
aos tais EUR,251,00 mensais! Não interessa aos que veem os outros serem livres,
mas não se podem dar ao luxo de descontar menos que EUR 251,00 (imagine-se o
despautério), porque ganham seiscentos ou setecentos euros por mês, porque essa
sua liberdade lhes é cortada e não são livres de escolher! Só os ricos podem
escolher, na visão hodierna da CPAS…
E, se é verdade
que tenho a fortuna de estar entre os que deveriam estar a descontar mais (aproveitando
a liberdade que tenho e o facto de não confiar na CPAS, não o faço), não menos
verdade é que tenho o privilégio de ser o único no meu escritório com mais de
meia dúzia de anos de Advocacia e de, por isso, ser o único que me posso dar a
esse luxo: a carteira de clientes que já fui fazendo foi-me garantindo
descontar para CPAS abaixo do meu rendimento real; os outros cinco que cá
trabalham, descontando pelo mínimo embora, todos eles descontam acima do que é
a sua capacidade contributiva…
Alguém imagina
que quem tem milhares de euros de rendimento alegadamente provenientes da Advocacia
(estou a lembrar-me de um que nem desconta para a Segurança Social sobre a
fortuna que ganha em pareceres ou nas suas intervenções em tribunais arbitrais
porque desconta para a CPAS, alegadamente como advogado) a ter de descontar com
base nesses milhares de euros para a Segurança Social?
E levei o terceiro
baque quando vi um Bastonário da Ordem num vídeo bonitinho a explicar o seu
voto…
Baque, sim,
verdadeiro baque! É que o tal vídeo bonitinho foi pago com o dinheiro que
deveria ser de todos, mas que atual direção da CPAS decidiu usar apenas para se
tentar perpetuar e tentar perpetuar o modelo que não serve todos, mas apenas os
que beneficiam deste modelo…
Percebi que o
que verdadeiramente está em jogo é a perpetuação daquilo que eu sempre combati
e que combaterei enquanto a toga for a minha segunda (segunda não: única) pele!
Quer-se a toda a
força (à custa dos mais novos, dos que amam a Profissão mas ainda não tiveram
tempo ou oportunidade de tirar dela proveitos generosos, dos que, num contexto
complexo de massificação, pagam mais do que podem) a perpetuação de uma elite
que não o é e que deveria ter vergonha de querer sê-lo…
E, se é para
ajudar a tornar os Advogados um bocadinho mais iguais entre si, neste caso
levando a que todos possam (rectius, tenham de!) descontar de acordo com
a sua capacidade contributiva, então a minha escolha só pode ser uma: maturada
e muito refletidamente, vou votar pelo sim!
Duas últimas
notas: (primeira) a de que não me esqueci dos nossos velhos!
Sei, pelo contrário
que a Advocacia se saberá mobilizar para os defender e bem tratar!
(A segunda): quando
tudo fiz para ajudar a eleger o atual presidente do Conselho Geral da Ordem dos
Advogados (e como me arrependo disso!), a razão política primeira para o ter
feito foi o facto de o meu candidato ter sido o único a assegurar a todos que o
seu trabalho iria ser no sentido de assegurar que as contribuições de todos para
a previdência dos Advogados se fariam em respeito pelo princípio da capacidade
contributiva.
O tempo que se perdeu
(aliás, que o bastonário da Ordem dos Advogados perdeu!) sem nada fazer para que
as nossas contribuições respeitem esse princípio sagrado foi o que tornou
impossível que isso se possa fazer pela CPAS e que, neste momento, apenas a
Segurança Social seja solução…
Não tenho a
esperança de que o bastonário da Ordem dos Advogados tenha a coragem de assumir
que só mesmo pela integração da previdência dos Advogados na Segurança Social essa forma justa de
contribuições será possível!
Mas, afinal, como
a sua forma de fazer política na Ordem é a de andar a reboque dos
acontecimentos (e é!), bem pode acontecer que a sua inércia seja a maior aliada
dos que esperam por essa integração e pela justiça que ela trará ao sistema e à
Advocacia…
A esses, apelo
que deem um primeiro passo e (mesmo desconfiando de algumas coisas,
naturalmente), amanhã, votem SIM!
No passado dia 7
de junho, a Câmara Municipal propôs à Assembleia Municipal que concedesse o
estatuto de interesse público à “ideia” de uma empresa privada de pedir
informação sobre a viabilidade de construção numa determinada zona da cidade, a
saber aquela que entre as ruas 20 e 43, fica ali nas imediações do antigo
matadouro municipal.
E digo isto para
esclarecer o primeiro conjunto de mentiras que contaram ao povo de Espinho: o
que se estava a avaliar não era o projeto (que nem existe como tal!), mas antes
e apenas se deveria ser concedido o estatuto de utilidade pública à ideia que
nos estava ali a ser apresentada pela Câmara; e, sim, quem propôs essa
atribuição de utilidade pública por parte da Assembleia Municipal não foi
nenhum grupo empresarial, foi a Câmara Municipal, liderada por Pinto Moreira (curiosamente
– ou talvez não – ausente da discussão) e Vicente Pinto. Fica o esclarecimento.
Aproveitando o
“embalo”, aproveito para esclarecer também a segunda mentira que Pinto Moreira
e Vicente Pinto nos tentaram impingir: a de que seria um grande grupo económico
a fazer a proposta de construção de alguns enormes blocos de habitação,
comércio e serviços naquela zona. Não é um grande grupo económico: é uma
sociedade que nem dois anos de criação tem, existe com um capital social de cinco
mil euros, tem um único administrador e um único funcionário e a ligação a
qualquer grupo económico (pequeno ou grande, se é que existe) está
completamente ocultada em todos os documentos oficiais… só a Câmara de Pinto
Moreira e Vicente Pinto afirmava que ali estava um grande investidor…
Prestando
contas: eu, que não ando nisto há meia dúzia de dias, fiquei com demasiada
impressão de que esta era uma daquelas coisas que se vêm (quando as câmaras não
são do PSD) no programa da Senhora Felgueiras às sextas-feiras; logo por aí, jamais
poderia votar a favor…
Já agora,
desmitifique-se mais uma mentira: não é essa “empresazeca” – não se pode
qualificar de outra forma uma sociedade com um capital de cinco mil euros, um
único administrador e um único funcionário – quem se propõe construir seja o
que for: está preto no branco que o que quer é uma valorização brutal de uns
terrenos que valiam muito pouco antes da declaração de interesse público quando
comparado com o que passam a valer depois dela para, mais tarde, eventualmente,
recolocarem esses mesmos terrenos no mercado e vendê-los a quem lá irá fazer
construção.
Prestando
contas: eu, que não ando nisto há meia dúzia de dias, fiquei com a certeza
de isto mais não é que uma operação de especulação imobiliária (com “consentimento”
municipal) à qual não poderia dar o meu voto favorável, enquanto deputado na Assembleia
Municipal…
Chamei, aliás, a
atenção dos Senhores Deputados Municipais relativamente a esse aspeto: como conceder
o estatuto de interesse municipal a uma operação de especulação imobiliária,
que não visa construir nada, apenas quer licença para vender a preço assegurado
(e alto) terrenos que, antes, pouco valor tinham?
Um outro
argumento concorre para que não se pudesse dar interesse público a uma coisa
destas: como o negócio está “montado”, ou seja, não é o requerente da
informação que vai construir (é sempre um terceiro que o vai fazer), são
centenas de milhar de euros em impostos municipais que se deitam fora: basta
ver que (com o famoso “imposto Mortágua”) cada milhão de euros de prédio
vendido vale para o município setenta e cinco mil euros de IMT… tirando Vicente
Pinto, alguém acredita que um hotel instalado numa torre de dezanove andares,
com uma volumetria enorme e a meia dúzia de passos da praia jamais valerá (construído)
menos do que oito milhões de euros? É que, só nesse valor na venda desse prédio,
perde-se, ao isentar de IMT a “ideia” (repete-se, a especulação imobiliária),
seiscentos mil euros!
Prestando
contas: eu estava na Assembleia Municipal no decurso da qual se viu Vicente
Pinto a quase rasgar as vestes por o PS querer reduzir o IMI, com benefícios
para todos os espinhenses… perder umas centenas de milhar de euros em IMT (que
vai para uma empresa que nem sede tem em Espinho) tem mais interesse
estratégico que reduzir o IMI aos nossos munícipes? Começava a impor-se um voto
contra…
Juntei a isto
(como se pouco fora) o facto de nada se prever quanto a contrapartidas (que,
entre o muito que poderia ser, imagino duas: ou em habitação a custo controlado
e/ou a reabilitação de um espaço cultural ali ao lado e que esta Câmara deixou
quase a cair de podre); juntei-lhe ainda a circunstância de a “ideia” implicar
um conjunto brutal de edificado com destino comercial, o que ainda mais vai dificultar
a vida aos nossos comerciantes e empresários, instalados no resto da cidade; somei-lhe
a total rutura com cem anos de história de uma cidade organizada em quarteirões e que se perde com uma coisa
destas e… o voto contra começava mesmo a impor-se como o único possível (mesmo subtraindo
a risota da noite: a de que alguém quer que Espinho seja uma espécie de Manhattan).
Porém, a imposição
de consciência de votar contra tornou-se-me inelutável quando se percebeu
claramente que aquele pedido de declaração de interesse público para algo que
não é uma operação de construção (mas antes de especulação), que não trará receita
ou contrapartidas ao Município (antes lhe somará encargos na construção e/ou
manutenção de infraestruturas), que será mau para os comerciantes e pequenos
empresários (pela concorrência desregulada), foi resultado de uma (chamemos-lhe
assim) “operação de charme” da tal empresazeca a alguns membros da Assembleia
Municipal, obviamente escolhidos a dedo com a colaboração de “alguém”...
“Confessaram-se”
(passe a expressão) o Deputado Municipal António Andrade que disse que foi
convidado em março deste ano para ir a um hotel falar com a empresa e que, em
cinco ou dez minutos de conversa, ficou convencido de que seriam mesmo criados
cento e tal postos de trabalho… mesmo assim, assegurou (e nada tenho que me
faça crer em contrário) que não assumira qualquer compromisso; “confessou-se” o
Deputado João Passos, dizendo que aos Deputados do PSD não tinha sido feito convite
e que a informação chegara toda através da Câmara que apoia (imaginamos todos
que não lhes cabe a eles decidir: o compromisso estava assumido por quem
“manda”, lá para aqueles lados); “confessou-se” o senhor presidente da Junta de
Freguesia de Paramos, que também foi ao “beija-mão” e que, nas suas próprias
palavras, apesar de não ser na sua freguesia que se ira operar a coisa,
assumira o compromisso de votar favoravelmente…
Como muitos
deputados municipais não tinham recebido o convite para irem ao tal “beija-mão”
(no meu caso, percebo porquê: tenho fama – e proveito! – de ser um chato do
caraças nestas coisas e de ser difícil convencer-me que algo errado é bom), a
sugestão feita pelo Senhor Deputado Teixeira Lopes tinha toda a razão de ser:
“venha cá a empresa que vai beneficiar disto para explicar onde está o
interesse estratégico”… Obviamente, foi chumbada a proposta de ouvirmos a
beneficiária do que ali se discutia, vindo os votos contra precisamente dos que
haviam ido ao “beija-mão” diretamente ou por interposta pessoa…
A seguir, deu-se
o esperado: aquela ideia, que não trará nada de benéfico à cidade e que mais
não é que uma ação de especulação imobiliária com “consentimento” de PSD, Bloco
de Esquerda, (ex-)carapau e dos Senhores Presidentes de Junta de Freguesia
passou a ser considerada de “interesse público”.
Prestando
contas: não com o meu voto: pedi liberdade de voto ao meu Partido; e o meu Partido
(ao mesmo tempo que me assegurava que jamais votaria favoravelmente uma coisas
daquelas), deu-ma: obviamente, votei contra!
É esta a magia de Coimbra: a certeza de que hei de sentir sempre a vontade de "corromper" a lógica e dar comigo a cantar qualquer coisa como isto:
"Os amigos e as estórias
(até as guitarras) embalam
as saudades, as memórias,
os sonhos que jamais calam..."
Porquê uma “quase crónica”?
Porque, apesar de escrita como tal, tenho para mim que há de ficar exclusivamente onde a colocarei: no meu blog pessoal, onde vou prestando coisas, às vezes, contas. Às vezes, porém, a forma basta para o conteúdo ficar onde deve permanecer… E, assim como assim, se a quisesse publicar, em Espinho não teria onde…
Tripartida por isso mesmo: a) uma primeira parte de opinião sem fundamento factual (salvo na parte final dele, ficou feita no parágrafo que antecede); b) uma segunda parte de factos (que são o que são); e, c) uma última, de opinião, essa já baseada em factos, mas ainda assim, confessada opinião…
Factos?
1. No passado dia 26 de fevereiro, teve lugar a reunião que finalizou a última Sessão Ordinária da Assembleia Municipal de Espinho, na qual estou empossado como Deputado Municipal;
2. No decurso dessa reunião, fui acusado de insultar o presidente da Câmara Municipal
3. Reitero que não o fiz!
4. Foi-me remetida uma mensagem, no decurso da reunião e através de uma aplicação de conversas online, uma mensagem que me deixou profundamente irritado;
5. Irritado e pensando estar a escrever em resposta a quem me remetera essa mensagem, escrevi o que escrevi;
6. Escrevi, no chat – que deveria ser privado – de apoio àquela reunião virtual a seguinte expressão: “não era de mim que este grande filho da puta estava a falar, pois não?”
7. Nem sequer me apercebi de que tinha escrito aquilo no chat – que deveria ser privado – de apoio àquela reunião virtual e não na conversa que estava a ter em paralelo;
8. Apercebi-me disso quando um vogal que se apercebeu do meu lapso (ou erro, ou desatenção – chame-se-lhe o que se quiser chamar) decidiu aproveitar-se dele;
9. E dele retirar falsas conclusões (à partida, a afirmação de que tinha intenções que não tive nem tenho);
10. E disso tirar proveito político;
11. Quando me apercebi do erro que cometera, no mesmo chat – que deveria ser privado – de apoio àquela reunião virtual dei explicação do sucedido;
12. Acabei por ter necessidade de explicar em alta voz e na Assembleia o que já explicara no chat – que deveria ser privado – de apoio àquela reunião virtual: o meu erro, lapso, desatenção – o que lhe quiserem chamar;
13. E, de viva voz, tive oportunidade de reafirmar (com verdade!) que o que escrevera no chat – que deveria ser privado – de apoio àquela reunião virtual não era dirigida a nenhum dos presentes naquela reunião e que se tratou de um lapso, de um erro meu o facto de ter sido escrito no chat de apoio à reunião virtual da Assembleia Municipal;
14. Porque, se não era dirigido a nenhum dos membros da Assembleia, obviamente, não era no “chat” da Assembleia que deveria ter sido escrito!
Permito-me, agora, as opiniões:
a) não me orgulho de ter usado a linguagem que usei: mesmo irritado como estava por uma questão pessoal que se interpôs a meio da Assembleia, não é linguagem que costume usar ou de que me pudesse orgulhar, se tivesse esse hábito!;
b) sei – há muito – que estar-se na política também passa pela “petite histoire”, queiramos ou não;
c) Obviamente, se a política em Espinho fosse feita por todos com decência, aqueles que se aperceberam do meu lapso (ou erro, ou desatenção – chame-se-lhe o que se quiser chamar) jamais se teriam aproveitado dele e desse aproveitamento retirado falsas conclusões (à partida, a afirmação de que tinha intenções que não tive nem tenho) e disso tirado proveito político;
d) Sabemos, porém e infelizmente, que não é assim! E sabemos há muito;
e) E, ao fim deste tempo todo a ver como “funcionam”, percebemos que a intenção daquele vogal em concreto (e do Presidente da Câmara Municipal ainda mais) não é reagir ao erro do Carapeto: é mesmo tentar impor o retrocesso (não, não seria um regresso, seria um retrocesso!) das reuniões da Assembleia ao tempo do secretismo em que nada do que ali era dito chegava aos munícipes, em que não se cumpria a lei e não havia difusão pública do seu conteúdo…
f) Sabem que é difícil continuar a passar entre os pingos da chuva se esse retrocesso não acontecer; por isso há que “cavalgar” um evento e um seu interveniente para o conseguir!;
g) É imperioso – em contracorrente – afirmar que o concelho só tem a ganhar com a manutenção da transparência e democracia plena decorrente da transmissão online e em tempo real das reuniões da Assembleia Municipal e em boa hora a Senhora Presidente da Assembleia Municipal em exercício decidiu promovê-las nesses moldes!;
h) É imperioso que, na Assembleia Municipal e em todos os fóruns, mesmo que cavalguem o erro que cometi, se continue a denunciar o desgoverno em que o PSD mergulhou a cidade e gerar e afirmar a esperança de um concelho a caminho do merecido regresso a uma governação decente, honesta, competente e, acima de tudo, liberta da pequenez;
i) Da minha parte, continuarei a fazer o que saiba e possa para que Espinho se liberte da autocracia e da política do “pequenino”, do “mal projetado” e da prevalência dos interesses particulares a que o PSD de Pinto Moreira e Vicente Pinto o sujeitaram e possa renascer para o que sempre deveria ter podido permanecer: um concelho de projetos, de ideias, de liberdade e crescimento, onde todos (mesmo todos) sintam que é bom viver!
Espinho, 4 de março de 2021,
P.S.1. Tem, obviamente, razão quem me disse que eu cometi o erro primordial: desatentar-me (mesmo que só por instantes) do essencial, o que se estava a passar na Assembleia Municipal.
P.S.2. Estes dias também serviram para receber algumas manifestações de solidariedade (nenhuma inesperada) e também algumas ausências dela (mas é assim a “coisa”, não é?). A todos, o meu muito obrigado!
P.S.3. Este episódio teve uma grande vantagem: olhos nos olhos, no sítio certo e sem holofotes, consegui (porque lhe devia um pedido de desculpas e fui pedir-lho) resolver uma divergência velha que tinha com o tal familiar que, pensava eu, a mim e aos meus se referia quando disse o que tanto me irritou… além do abraço que o sangue reconhece sempre, foi francamente compensador perceber que o vogal de sempre asneou (como sempre!) quando barregou que era de mim que o tal filho da p*** estava a falar: não era…
Estranho o comportamento de alguns meus Colegas que – neste lamaçal onde, de quando em vez, aparecem coisas dignas e que me merecem respeito – decidiram antecipar a campanha eleitoral para a Ordem dos Advogados Portugueses, denegrindo e aviltando Colegas seus (passe a expressão) “lá porque se andam a pôr nos bicos dos pés”, mostrando-se para quando for tempo de campanha eleitoral para a Ordem…
Num momento em
que seis Advogados (com “A” muito maiúsculo – pelo menos os cinco que me dão o
privilégio de serem meus amigos) decidiram solicitar a respetiva renúncia aos
cargos de Vice-Presidente e Vogais do Conselho Geral da Ordem, em vez de lhes
louvarem a coragem (porque é de coragem que se trata!), optam por questionar os
motivos das respetivas decisões…
E já li as mais
variadas razões para esse questionar: projetos pessoais futuros (como se – a existirem – não fossem legítimos!), má vontade, má fé, sei lá… Não liguei especialmente: a
má língua relativamente aos seus pares que exercem funções diretivas foi-se
tornando, ao longo dos anos, uma prática corriqueira na vida da Ordem e sempre
pensei que diz mais dos que a praticam do que dos destinatários dela…
Sejamos francos:
quem os conhece sabe as suas “saídas” não foram resultado de um capricho ou de
uma leviandade, mas que só um desacreditar num projeto que tomaram como sendo (também)
seu e que se foi degradando ao longo deste último ano e pouco permitiria a
decisão que tomaram, seguramente com muita luta contra si mesmos…
Mas mesmo os que
não os conhecem deveriam (no mínimo!), pelo seu passado de dádiva à Ordem, à
Advocacia e aos Advogados, ter-lhes concedido a decência de não afirmar que
forma outros motivos que não decentes e ponderosas razões a motivá-los… mas não…
É verdade que já
deveria imaginar que assim seria o chorrilho: também a mim algumas verrinosas penas
se dirigiram quando, em abril do ano passado, me demiti das funções para as
quais o atual Bastonário me convidara (e fi-lo, como então escrevi, porque desaparecera
o “pressuposto
de que a Ordem que tenho por minha e de que o Conselho Geral que defendi como
sendo o melhor para o ser, saberia fazer o que lhe competia.” E, “pelo
contrário, conseguiu, anteontem [tinha havido uma (aviltante) AG da CPAS dois
dias antes], descredibilizar total e inelutavelmente o programa e o manifesto
eleitoral que me colocava em sintonia e partilha com ela e com ele!”).
Adiante…
Alguns, porém, foram
além: uma “razão apontada” houve, porém, que me deixou profundamente triste: a
de se “dizer” que um deles (e falo concretamente do Senhor Dr. Rui da Silva Leal)
teria saído “´só porque” a alternativa era sair por causa de um parecer do MP
que afirmava incompatível o exercício das funções de Vice-Presidente do
Conselho Geral da OA e de membro do Conselho Superior do Ministério Público. E
a tristeza (confesso) ficou ainda mais marcada porque os que tiveram coragem de
o aventar jamais o fizeram com a coragem de o dizer diretamente, antes
apostaram na “meia palavra”, no partilhar de “notícias” de jornal, na insinuação,
no “dizem por aí”…
Não vou perder
tempo a discorrer sobre o que é um parecer (não vinculativo); este é um post pensado
para Advogados e, desses, espero que saibam o que é o que vale… nem a lembrar o
esforço titânico que a atual PGR (mal, a meu ver) fez para que fossem sendo
cada vez menos os não agentes do Ministério Público os membro do respetivo
Conselho Superior; e, muito menos, a recordar que várias foram as vozes (entre
elas o atual e eméritos Bastonários da OA) que repudiaram a então vox populi
que se levantou contra a sua designação pela Assembleia da República para
aquele nobre e importante tarefa ao serviço do Estado…
Vou (não seria
capaz de calar perante a covardia das “meias palavras), porém, lembrar a muitos
que fazem conta de que esqueceram, os anos em que, como dirigente regional e nacional
da Ordem, deu de si e do tempo que poderia ter sido só da sua família e do seu
escritório aos nossos interesses; vou recordar as vezes em que foi Advogado de
Advogados em casos que envolviam a profissão, vou trazer às memórias “esquecidas”
as milhares – e sei que não exagero: são milhares! – de horas de formação
gratuita que deu a milhares de Advogados por esse país fora e perguntar que
diabo motiva esta gente contra quem tanto nos deu?!
Não gosto de
covardes! Mas gosto ainda menos que quem merece laudo ande na boca ou na pena de
quem não tem coragem senão para as meias palavras e para o “mal-dizer”…
E, contra mim
mesmo, não sei calar-me quando vejo injustiças como as que descrevi…