quarta-feira, 8 de novembro de 2023

Talvez "Cristo desça à terra"...


Marcelo Rebelo de Sousa perdeu uma ótima oportunidade:
1º, de permitir que a parte de si que está nomeado pelo Povo para ser Presidente da República ensinasse à parte de si que há de morrer comentador que falar antes do tempo é sempre uma asneira;
2º, de permitir que a parte de si que é Professor de Direito Constitucional (ramo da ciência jurídica com especiais obrigações na afirmação e potenciação do espírito democrático) ensinasse à parte de si que é Presidente da República que os valores da Democracia participativa valem muitíssimo;
3º de permitir que a parte de si que é (con)cidadão ensinasse à parte de si que nasceu e sempre viveu no privilégio o quanto quem ali nasce tem obrigação de servir e não de servir-se dos cargos para que se é eleito;

De facto, quando há meses, afirmava que a maioria absoluta que o Partido Socialista (repito, o Partido Socialista!) alcançou nas urnas era de uma só pessoa e não do coletivo partidário:
a) desensinou sobre Democracia, tendo tanta obrigação de ensinar sobre ela e dizer que o sistema de partidos é isso mesmo: um sistema de partidos e não o de "one man show" e que, em Democracia Participativa, a estabilidade (ou a falta dela) se faz com 230 deputados e não com um deles;
b) ficou amarrado ao seu próprio mau ensino do que seja Democracia (bem: amarado não será exato, já que não disse "nem que Cristo desça à terra", e só costuma fazer o contrário do que disse quando usa essa alocução).

E o pior nem foi o então; é o hoje, já que o hoje mais que provável:
i. impedirá - lembremos que não disse "nem que Cristo desça à terra") - uma das soluções mais óbvias da Constituição da República Portuguesa: o respeito pelo voto em 230 deputados;
ii. deixará, pelo meio, um orçamento como coisa impossível/improvável e, dessa forma, não há - entre outras - mexidas no IRS, maior investimento público - especialmente na saúde -, mais casas no parque público, medidas para ajudar à fixação e integração de jovens, entre tantas coisas boas que antes só alguns diziam que o são e que, agora, tantos reconhecem que o seriam;
iii. deixará, nos entretantos, um PRR em risco; e
iv. permitirá que, amarado ao de então, fiquem mais pobre quer os mais pobres, quer a classe média, face a uma inflação que tende a baixar, mas não baixou e a duas guerras que podem mesmo fazer inverter essa tendência de baixa...

Para que isso não acontecesse, "bastaria" que a parte de si que é Presidente da República tivesse ganho a luta (que merecia ser travada) contra todas as demais partes de si...
Não ganhou... e, entre copos e passeatas noturnas para mostrar um beco a uma ajudante de campo, perdemos todos...
O quanto, só o tempo o dirá...
Pode ser que, entretanto, "Cristo desça à terra"...