sexta-feira, 29 de março de 2024

SOBRE A “ÉTICA REPUBLICANA”…

 

Usar uma imagem (os créditos são da GNR) de um sinal amarelo de um semáforo pode parecer contraditório com aquilo sobre que me apetece escrever, hoje…

A primeira vez que me lembro de ter lido sobre a "ética republicana" foi na adolescência: fascinado pela I República e pelos seus (para mim) heróis, devorei algumas coisas de Teófilo Braga – entre outros – e o tema estava lá.

Hoje, republicano sempre (se calhar com mais convicção), o que então li deixa-me, para além da sensação de inocência relativamente ao que era, alguma dificuldade em reconhecer-me no pensamento maniqueísta de então: não é por ser da República que a ética republicana vale a pena; é por ser de quem gere os interesses da Comunidade com desapego, com sentido ético, com o guiar-se só pela lógica do servir e jamais pela do servir-se… e isso não aparece com a República, por muito que queiramos enaltecê-la e mesmo em face dos Joãos Francos desta vida (também eles das monarquias quanto das repúblicas)… Mas o conceito, confesso, nunca mais me saiu da cabeça.

Volto a dizer que a ética não é da República, mas tem de ser, seguramente, dos republicanos; para um republicano, o poder não é algo a que Ser Humano algum tenha direito; é sempre um dever (e os deveres têm sempre o outro (os outros!) como contraponto).

Percebe-se que quem entenda o poder como um direito seu, da sua família, do seu clã, da sua classe, lide mal com este conceito de ética republicana. Mas quem o veja como uma obrigação (nem sequer como um instrumento ou um meio), como um verdadeiro dever no trilho do caminho para o Dever-Ser(-se) (em Comunidade), esses lidamos bem com ele, gostamos dele, acarinhamo-lo, tratamos dele como coisa frágil e facilmente sujeita à (egoísta) natureza humana que é.

A ética republicana é uma visão sobre a ética social, enquanto forma de estruturação de uma Comunidade e de definição de um conjunto de comportamentos aceites e partilhadas no seu seio e distingue-se, mais que tudo, por ser orientada para uma ideia que nasce da Comunidade, se faz na Comunidade e serve (para) a Comunidade: o serviço público só o será verdadeiramente quando estiver ao serviço do Bem Comum.

Por isso, a imagem que associo a estas linhas faz para mim todo o sentido: no que toca àqueles valores, o sinal nunca está verde, está sempre amarelo… é preciso ponderar, ter a certeza de que é para a Comunidade que se trabalha, é imperioso ter a certeza de que a opção entre servir e servir-se nem sequer se coloca…

É para parar, não para arriscar e esperar que o vermelho não venha… porque ele está lá, implícito e (como se exige!) punidor!