Usar uma imagem (os créditos são da GNR) de um sinal amarelo
de um semáforo pode parecer contraditório com aquilo sobre que me apetece escrever,
hoje…
A primeira vez que me lembro de ter lido sobre a "ética
republicana" foi na adolescência: fascinado pela I República e pelos seus
(para mim) heróis, devorei algumas coisas de Teófilo Braga – entre outros – e o
tema estava lá.
Hoje, republicano sempre (se calhar com mais convicção), o
que então li deixa-me, para além da sensação de inocência relativamente ao
que era, alguma dificuldade em reconhecer-me no pensamento maniqueísta de
então: não é por ser da República que a ética republicana vale a pena; é por
ser de quem gere os interesses da Comunidade com desapego, com sentido ético,
com o guiar-se só pela lógica do servir e jamais pela do servir-se… e
isso não aparece com a República, por muito que queiramos enaltecê-la e mesmo
em face dos Joãos Francos desta vida (também eles das monarquias quanto das
repúblicas)… Mas o conceito, confesso, nunca mais me saiu da cabeça.
Volto a dizer que a ética não é da República, mas tem de
ser, seguramente, dos republicanos; para um republicano, o poder não é algo a
que Ser Humano algum tenha direito; é sempre um dever (e os
deveres têm sempre o outro (os outros!) como contraponto).
Percebe-se que quem entenda o poder como um direito seu, da
sua família, do seu clã, da sua classe, lide mal com este conceito de ética
republicana. Mas quem o veja como uma obrigação (nem sequer como um instrumento
ou um meio), como um verdadeiro dever no trilho do caminho para o Dever-Ser(-se)
(em Comunidade), esses lidamos bem com ele, gostamos dele, acarinhamo-lo,
tratamos dele como coisa frágil e facilmente sujeita à (egoísta) natureza humana
que é.
A ética republicana é uma visão sobre a ética social,
enquanto forma de estruturação de uma Comunidade e de definição de um conjunto
de comportamentos aceites e partilhadas no seu seio e distingue-se, mais que
tudo, por ser orientada para uma ideia que nasce da Comunidade, se faz na
Comunidade e serve (para) a Comunidade: o serviço público só o será
verdadeiramente quando estiver ao serviço do Bem Comum.
Por isso, a imagem que associo a estas linhas faz para mim
todo o sentido: no que toca àqueles valores, o sinal nunca está verde, está
sempre amarelo… é preciso ponderar, ter a certeza de que é para a Comunidade
que se trabalha, é imperioso ter a certeza de que a opção entre servir e
servir-se nem sequer se coloca…
É para parar, não para arriscar e esperar que o vermelho não
venha… porque ele está lá, implícito e (como se exige!) punidor!