Porque dizem que uma imagem vale mais que mil palavras, ainda a propósito de eutanásia...
PS: eu continuo a achar que estou do lado certo: se a velhinha quiser ir para "o lado de lá", eu ajudo-a; se ela não quiser, ninguém a pode empurrar!
quinta-feira, 31 de maio de 2018
terça-feira, 29 de maio de 2018
Memórias de um debate par(a)lamentar (ou já que falamos em eutanásia)...
A democracia tem de ser respeitada e é por isso que não me lerão a criticar a votação que hoje decorreu no parlamento (embora me apeteça muito escrever sobre as sensações que tive por ver o PCP "jerimonioso" e CDS "de Crista" a votar do mesmo lado ou sobre como foi delicioso ver a deputada do CDS a usar como grande argumento para os outros partidos passarem a pensar como ela o facto de a Maçonaria pensar como eles deviam pensar)…
Mas a verdade é que, hoje, só me vinha à ideia o meu avô Herculano, homem de bem e que soube educar e prover a dois filhos e aos empregados que dele dependeram durante toda uma vida de trabalho duro e que (já lá vão mais de trinta anos), comido por um cancro que o havia de levar – imerso em dor, passados uns meses –, pedia à minha mãe, sua filha dileta e que fazia as vezes de enfermeira à mingua delas, que lhe desse de uma vez a morfina que devia durar uns dias e, assim, acabasse com o sofrimento dele.
Lembro-me das lágrimas que corriam pelo rosto daquele homem que me ensinou a tabuada dos "9" ainda antes de a minha professora primária me ter ensinado a dos "6", de cada vez que a minha mãe tinha de recusar-lhe o pedido que tão genuína e doridamente lhe fazia o homem que mais amava à face da terra; lembro-me do esgar de dor nos seus olhos, ainda hoje me doem os seus gritos de agonia de dia e noite durante muitas semanas…
Lembro-me da mágoa que via na minha mãe de cada vez que tinha de recusar o que lhe pedia o homem que tanto a amava...
E lembro-me dos anos todos em que a minha mãe (que, curiosamente, partiu faz hoje quatro anos, do mesmo estúpido cancro de que morreu o meu avô) se roeu por dentro por não o ter podido respeitar naquela que era a sua vontade legítima (digo eu) e compreensível (diremos muitos, espero).
Como há trinta e tal anos o meu avô estava condenado a sofrer (como um danado num inferno terrestre), hoje condenaram-se muitos a continuar a sofrer...
Ao meu avô Herculano não lhe permitiram senão (face à míngua de mínimo de esperança de vida digna) viver (sabendo que não lhe sobreviveria) um cancro que lhe comeu o corpo todo, ao ponto de ter sofrido uma fratura exposta num braço quando alguém lhe dava banho, ao ponto de ter deixado de (re)conhecer a mulher que amara a vida toda, de tal modo o cérebro estava já "comido". Como há trinta anos, condenaram-se milhares a fazer de conta que não ouvem (como a minha mãe não podia ouvir) todas as vezes em que os Herculanos que por aí estão pedem o que acham que é seu direito: ir embora enquanto o mínimo da dignidade ainda lá estiver...
A democracia tem de ser respeitada, é um facto… mas dói muito ter de o fazer quando é ela quem condena à indignidade quem merecia dela mais respeito…
domingo, 20 de maio de 2018
É tempo de calar os silêncios...
Alguns dos que – verdadeiramente –
são meus amigos vão ficar chateados comigo por eu ter escrito este post, bem o
sei…
Mas a esses – como aos demais –
apenas posso dizer que há momentos em que ficar calado é compactuar com o mal; neste caso com o mal que está a fazer à profissão que abracei gostosamente e na qual tenho
o maior orgulho quem a deveria proteger (por negligência e absoluta incompetência – prefiro pensar).
Vem, pois, este post a propósito
do que assisti na Sessão Solene da Comemoração do Dia do Advogado de 2018, no
Algarve.
Confesso que não era evento a que
tivesse querido ir: fui porque assuntos prementes obrigaram a marcar reunião do
Conselho Superior da Ordem dos Advogados Portugueses e não gosto de falhar a
convocatórias do órgão para o qual os meus Colegas me elegeram (até hoje, que
me lembre, faltei a uma única reunião plenária, por sobreposição com um
julgamento a que não podia mesmo faltar).
Mas ouvir o discurso do Bastonário
da Ordem fez-me ter a certeza de que melhor teria empregue o meu dia de sábado na
praia (parece que o mar em Espinho estava “qualquer coisa”).
Ouvi coisas que me arrepiaram, ainda
mais quando não sei esquecer estar perante alguém que tentou punir um eleito
por delito de opinião e, para além de manter uma perseguição feroz a seus
iguais, vai vendo os que lhe eram próximos saltarem borda fora, constatando a
falta de respeito pela democracia efetiva (porque o maior ato de democracia há
de estar sempre no respeito pelo programa e pelas promessas com que se foi ao
sufrágio).
Uma das que ouvi, então (porque
bastaria ouvir os advogados para não a poder proferir), deixou-me verdadeiramente
de cabelos em pé: a afirmação de um otimismo decorrente do facto de “a justiça
estar muito melhor”, dando isso como assente pelo facto de assim o demonstrarem
(pasme-se!!!) os relatórios dos Conselhos Consultivos das várias Comarcas…
O que me custou mais, porém, foram
os silêncios:
– sobre reorganização judiciária
(que se esperava que estivesse mais que estudada: todos sabíamos que a lei tinha
de ser reavaliada passados três anos da sua implantação);
– sobre os muitos (essencialmente,
jovens) que penam em verdadeiros contratos de exploração laboral consentida sob
a capa de falsos recibos verdes;
– sobre exigências que se têm de
fazer ao Estado para melhorar a relação do cidadão e do advogado com a justiça
(e dizer que se quer que os processos judiciais possam passar a ser consultado
de forma corrida no Citius ou que as
gravações dispensem CD, podendo ser ouvidas diretamente no dito sistema… não
conta);
– sobre o incremento dos que são
atos próprios da advocacia, matéria em que imperou o zero: um redondo e exasperante
“zero”;
– sobre a total demissão da Ordem
dos Advogados (com especial importância para os que exercem em prática individual) da sua obrigação de colaborar ativamente para a formação contínua
dos Advogados;
– sobre um tema (“o” tema) que verdadeiramente importa
à advocacia (a toda a advocacia, não à que é ouvida pelas bandas de S. Domingos),
a questão da Caixa de Previdência de Advogados e Solicitadores, e sobre o facto
de todos sabermos que é coisa que, se não mudar (muito e rapidamente) vai conduzir
para fora da profissão milhares de Colegas que fazem falta à profissão e aos cidadãos;
O que ali tivemos de ouvir foi um
Presidente do Conselho Geral da Ordem incapaz de mostrar (às tantas, porque não
o tem ou o que tem é mau…) um projeto que possa proteger os advogados (todos os
advogados!), que possa defender a cidadania, sem uma ideia do que seja
necessário fazer para servir a advocacia, servir os advogados e fazer aquilo
para que a Ordem e os seus órgãos existem…
E, mesmo assim, um sorridente
(quase gozão) bastonário a conseguir regozijar-se e (auto)enaltecer-se – como se
elogio em boca própria fosse outra coisa que não vitupério – por coisas que em
nada beneficiam os advogados (como seja o famigerado pacto para a justiça, onde
ganharam todos, menos os que defendem os cidadãos).
Infelizmente, creio que concordam
comigo muitos dos que não lá foram (e é preciso deixar escrito que, num espaço
onde cabiam talvez mais uns cinquenta advogados que aqueles que lá estavam por
serem homenageados (e seus convidados) e membros de órgãos da Ordem, havia
cadeiras por ocupar, num sinal claro de divergência entre quem é a Ordem dos
Advogados (os Advogados) e quem a dirige…
O que peço a esses – e creio que posso,
que tenho tempo de casa que chegue para o poder fazer sem que alguém pense que
o que me move é algo diferente da profissão que amo como a poucas coisas na
minha vida! – é que se deixem de silêncios e comecem a pedir mais, a intervir mais,
a não rejeitar presença em todos os fóruns e em todas as discussões…
Porque Martin Luther King tinha toda
a razão quando dizia que “O que me
assusta não são as ações e os gritos das pessoas más, mas a indiferença e o
silêncio das pessoas boas.”
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