segunda-feira, 14 de agosto de 2023

Estranhezas...

 

Num momento em que me preparo para dedicar um ano da minha vida a estudar a autonomia do poder local, confesso que esta petição pública me faz levantar muitas questões:
- sobre a natureza "nacional" de um interesse público que talvez seja exclusivamente local (afinal, a tal ponte é onde é);
- sobre a legitimidade que a restante comunidade nacional terá para discutir um assunto que é, antes de tudo, das populações de Lisboa e Loures;
-:sobre o direito que o Parlamento terá (ou não) de discutir um assunto que nasce, mais que tudo, da autonomia normadora de um município, às tantas, um direito fundamental dele;
- sobre os efeitos para a autonomia local (como princípio estruturante que é da nossa organização política) decorrentes da "apreciação à escala nacional" de uma decisão como a de toponímia num município;
Mas confesso que pensei (se calhar em "demasia") no direito à participação cidadã na tomada de decisões quando a assinei...

https://peticaopublica.com/?pi=PT117329 #peticaopublica #peticao via @peticaopublica

quarta-feira, 2 de agosto de 2023


 

Quem me conhece sabe que sou, mais que laico, ateu: há muito tempo que deixei de precisar de deus(es) para explicar a vida, o mundo e esta coisa de ser(-se) Humano...
Não detesto curas, não desprezo os crentes: respeito-os e não vivo na lógica do "eles ou eu": prefiro, de longe (relativamente aos que professam seja que fé for) a ideia do "eles e eu, cada um com o seu papel na comunidade".
Importa-me nada que seja por causa de que deus for que um ser humano quer bem ao seu semelhante e o coloca onde ele deve estar: no centro do pensamento e da ação!
Isto dito, sem pensar em retornos económicos (há de havê-los) ou em gastos públicos (esta coisa de querer fazer comunidade há de implicar sempre gastos - que alguns chamam de investimento, outros de desperdício, embora eu prefira chamar-lhe o que são: encargos com o querer fazer comunidade), olho para algumas coisa que por aí tenho visto escritas ou ouvidas e não deixo de me pasmar:
– alguns (que não confundo com os não crentes: são quase sempre "profissionais" da maledicência e do eterno espírito do "Velho do Restelo e fizeram disso a sua opção de vida) rasgam as vestes porque o país se dispôs a parar para receber o equivalente a mais de dez por cento da sua população num evento que marca pelo que é importante: os jovens, a sua irreverência, a sua fé no ser Humano (mesmo que mediada por um deus que não (re)conheço); são tão tontos...
– outros (que não confundo com os crentes: são gente movida pela lógica, quase sempre “política”, do “eles ou nós” e que bradam contra os que opinam em sentido diverso do seu em matéria religiosa, como contra os socialistas, como contra quem defende animais ou a igualdade de género ou contra os que, pura e simplesmente, não vivem (como eles vivem), não agem (como eles agem), não pensam (como eles pensam) em função do seu umbigo e do seu exclusivo interesse, como se isso não significasse que o outro fica pelo caminho) barregam por aí que os que preferiam que os próximos dias fossem diferentes são estúpidos e, por serem estúpidos, tem de se fazer que percebam (mais que a importância do que se está a passar e vai continuar a passar nos próximos dias) a importância deles próprios, os iluminados; são tão néscios…
– (no meio disto) há também aquele conjunto de oportunistas que, exatamente como os carteiristas dos autocarros da Carris ou os tipos que vão vender água pelo preço da vodka nos próximos dias, sempre ensaiam “um bonito” a propósito do encontro dos Jovens; esses, olha: são o que são e não vale a pena tentar que mudem…
- haverá outras “tipologias”, mas não era sobre isso que queria escrever (e, como sempre, acabei por alongar mais no escrito do que queria)… Afinal (aliás, exatamente como eu, nestas linhas), nos próximos tempos, há de haver sempre alguém que quererá dizer algo sobre esta coisa da Jornada Mundial da Juventude.
E o que quero dizer é isto: deixemos o superficial e procuremos o que verdadeiramente importa; aqueles milhares de jovens (eh pah, são centenas de milhar de jovens) vêm a Portugal – como poderiam ir a qualquer outra parte do mundo – movidos por aquilo em que acreditam, estabelecendo ou fortalecendo laços de amizade e fraternidade, criando ligações fortes entre seres humanos, crescendo no espírito de comunidade e de pertença a algo (mesmo que seja algo que creem que os transcende e eu não acredite nisso).
Aqueles milhares de jovens (eh pah, são milhões de jovens) vêm à procura de um mundo que acreditam que pode ser melhor, se motivado por uma fé que, feita de um “mandamento novo”, os conduz a fazer vida de se amarem uns aos outros…
Caramba: ninguém terá olhado para o que os move? Ninguém terá percebido que eles é que verdadeiramente contam nesta estória?
Merecem respeito? Merecem!
Merecem acolhimento? Merecem!
Merecem (até) gratidão (por mostrarem que a irreverência da juventude não serve só para incendiar carros, partir montras ou ficar sentadinho no sofá a jogar playstation)? Merecem!
O que digam os outros não me importa!
Estes Jovens têm o meu respeito, o meu acolhimento e o meu respeito!
Já agora, uma nota final: para a frase que os inspira (“Maria levantou-se e partiu apressadamente”). Esta sempre foi para mim uma das partes mais encantadoras do evangelho de Lucas: Maria não se preocupou com a sua própria gravidez – e que gravidez terá sido! – e foi (pre)ocupar-se e cuidar de uma familiar que estaria a passar por uma gravidez de risco…
Se os jovens se movem por isto, como pode seja quem for criticar, apoucar ou aproveitar-se do facto de aqui se juntarem?