quinta-feira, 24 de abril de 2008

Em risco de ruína

Ou, daí, talvez não: há já bastante tempo que tinha essa triste noção (apesar de não ser técnico).
Diga-se em abono da verdade que o edifício do Tribunal de Santa Maria da Feira era demasiado novo para estar tão velho.
O problema é que as marcas do tempo já lá estavam há muito e ninguém fez nada até hoje.
E não se diga que não houve vítimas: as dúzias de adiamentos num tribunal a abarrotar, as vidas que se adiam, os gastos que se acresccentam fazem vítimas, tristes e silenciosas vítimas...
Confesso que fui uma delas.

domingo, 13 de abril de 2008


Quando o Barão de Coubertain desenhou a imagem que todos associamos aos Jogos Olímpicos, quis, no essencial, entrelaçar culturas, entrelaçar povos, simbolizar a união dos esforços das nações a favor da paz e dos valores que associo a esse jogos.
Os Jogos – lembro-me sempre disso – foram a proposta de um grupo de cidadãos para demonstrar a premente necessidade de se regressar a uma paz que se fazia ameaçada, na Europa, já nesse final do século XIX.
Lembravam (e bem) que, durante os Jogos Olímpicos da Grécia antiga, todas as acções de natureza bélica eram suspensas e que era dada primazia à paz e à concórdia.
Ora, eu que sou a favor da forma como o nobre povo tibetano luta, há já anos demais, pelo seu imanente direito à auto-determinação (apesar da minha dificuldade em aceitar a existência de Estados de pendor teocrático, creio que os valores da liberdade e da auto-determinação são intocáveis), ando um pouco espantado com a forma como se vêm desrespeitando símbolos de liberdade, igualdade e paz a propósito dessa luta.
Custa-me tremendamente ver uma instituição de paz, de aproximação e de concórdia a ser desrespeitada por uma "guerra" político-independentista, por muito que seja justa a pretensão por detrás dela.
E digo isto porque me custou tremendamente ver a chama olímpica apagada por quem luta (ou ajuda a lutar) por ideais de liberdade e independência: não se constrói liberdade nem se deveria querer independência sobre a ofensa de símbolos que se foram tornando universais.
E, como não esqueço que a chama quer lembrar Prometeu, o que roubou o fogo aos deuses (e qual outro fogo para além do do conhecimento importa?), fica-me um amargo de boca…
Espero que as coisas possam mudar. Não que com “isto” vá passar a pensar que a liberdade e a auto-determinação tenham perdido importância. Mas fica-me o receio de que o possa perder o respeito pelos valores mais elevados do ser humano nesse caminho. E isso não me agrada.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Quando o homem se faz animal...


Como saberão os que me conhecem, não propugno que os animais tenham direitos. Tenho pelo meu canito um amor quase humano, mas não esqueço que aquele "quase" faz toda a diferença.
Mas, quando li que um ser (que se diz, mas que é muito pouco) humano vai tentar voltar a matar um cão por inanição em breve, numa exposição de pseudo-arte contemporânea, fiquei com a sensação de que o meu estômago tinha dado mais voltas do que as que o estômago pode dar.
Querer conceder direito à vida a um animal é algo com que não concordo; querer matá-lo apenas "porque sim" incomoda-me muito.
Não pretendo pronunciar-me sobre a minha noção de arte. Deixo isso aos estetas e a quem tenha, mais e melhor que eu, reflectido sobre essa essência de nós enquanto comunidade.
Mas posso e quero pronunciar-me sobre a maneira como abordamos a nossa humanidade.
Não concebo um ser (que seja efectivamente) humano que maltrate um animal por “dá cá aquela palha”.
Quando sei que isso acontece, parece-me que o homem se faz animal…
E, porque a nenhum animal (e não mais porque tenha o aspecto de humano) sou capaz de fazer o que gostaria de fazer a esse (muito pouco) senhor, fica-me o consolo de já ter assinado a petição:
http://www.petitiononline.com/13031953/petition.html

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Tenho andado a pensar na ideia (de que por aí se tem falado muito) de dar sumiço legislativo à acção de divórcio baseada na culpa.
Sei bem que isso corresponde a interesses (espantosos, quanto a mim) de fazer passar a alguma esquerda a ideia de que há efectivamente esquerda em quem legisla no PS, mas eu tenho para mim que estamos (principalmente se reduzirmos a causa de divórcio aos afectos) a esquecer e a comprometer em demasia pilares fundamentais da nossa sociedade.
Sou divorciado, pela via do mútuo consentimento e confesso que não me imagino passado a ferro pela via crucis que, por vezes, são os divórcios litigiosos.
Mas (talvez por ter sido um divórcio por mútuo consentimento), o respeito que tive e tenho pela mulher que foi minha esposa, faz-me ver-me ainda menos numa situação em que a teria sujeitado a uma espécie de declaração unilateral perante um oficial público do género: “não gosto mais dela, quero a palavra casado fora do meu Bilhete de Identidade”…
A ideia de culpa para a extinção de um vínculo contratual parece-me essencial: parece-me que só podemos construir uma sociedade de jeito se continuarmos a pautar a vivência societária pela velha máxima de que “pacta sunt servanda”.
Passa pela cabeça de alguém não pagar um café só porque o sabor não lhe agradava? A mim passa se tiver pedido um café “robusta” e me tiver aparecido um “arábico”. Mas tenho que o demonstrar.
Não me passa pela cabeça que o empregador possa despedir o seu colaborador sem invocar uma justa causa para o efeito.
Para mim, ainda faz sentido a ideia de que os contratos (e, para quem não goste de contratualizar, há aquela figura da união de facto) são para cumprir.
Qualquer caminho diferente parece-me abrir demasiadas brechas em demasiados pilares da nossa sociedade.
E mesmo que esses pilares estejam escondidos e pareçam pouco importantes, lembro-me sempre que era na parte invisível da Ponte de Entre-os-Rios que estavam as brechas maiores…