terça-feira, 31 de julho de 2018

O lema é o de sempre: “tornar iguais todos os advogados!”


Sou advogado em prática individual e gosto de o ser.
Tive a honra de ser presidente do IAPI – Instituto dos Advogados em Prática Individual e tenho orgulho no trabalho que levei a cabo com as Colegas que me deram o privilégio de aceitar trabalhar comigo em prol dessa forma de se estar na profissão que (continuo a dizer) é e será sempre a mais bela profissão do mundo.
E faço esta espécie de “declaração prévia de interesses” porque me sinto compelido a escrever umas linhas a propósito dum texto publicado no Boletim da OA deste julho, subscrito pela minha Colega Isabel Malheiro Almeida, que, francamente, me envergonha!
Jamais me passaria pela cabeça, mesmo como presidente de um instituto da Ordem que visava os problemas e as vivências de uma das formas do exercício da profissão de considerar a advocacia em prática individual uma advocacia humanizada, por contraponto a uma advocacia mercantilista, protagonizada esta pelos colegas que exercem em contexto de sociedade, que, mais gravemente, seriam advogados incapazes de empatizar com os clientes e com os seus problemas; jamais (repito, jamais!) sequer pensaria dizer que a advocacia em prática individual tem por vantagem competitiva relativamente à demais formas a circunstância de ser mais “em conta”… jamais (repito, jamais!) menorizaria dessa forma uma forma de se estar na profissão tão digna e tão importante como todas as outras!
E estou à vontade para o dizer: o que estou a escrever agora disse-o sempre.
Por exemplo, lembro-me de, em entrevista que a revista Advocatus me pediu – longe vai o mês de junho de 2015  –, ter afirmado coisas como esta: “Contrariamente ao que muitos gostam de propalar, a advocacia em prática individual não é diferente da restante advocacia e, a meu ver, está – no aspeto técnico, no aspeto deontológico e no aspeto relacional – muito bem preparada para enfrentar os desafios que as novas realidades importam à profissão e à sociedade. (…) Se me permite a analogia, exatamente como os advogados que exercem em sociedade e como os advogados que exercem em contexto de empresa, os advogados em prática individual estão claramente preparados para continuar a aprender, nesta como nas outras áreas da prática profissional.”; ou esta: “A palavra concorrência é já por si uma palavra que não gosto de usar quando falo de advocacia. É certo que a distinção entre advogado em prática individual, advogado que exerce em (pequena, média ou grande) sociedade e advogado de empresa é uma distinção que existe; porém, entendo-a necessária apenas por serem essas as formas – e formas igualmente nobres – de exercício da profissão. Não gosto, porém e como lhe disse, de colocar a questão falando de concorrência. Um advogado a quem a comunidade reconheça honestidade, elevada preparação técnico-jurídica e um domínio apurado das legis artis, independentemente da forma como exerça a profissão, encontrará a sua clientela e tenderá a consolidá-la.”
Continuo a pensar assim (e cada vez mais a pensar assim)! E a ter a certeza de que importa cada vez mais “tornar iguais todos os advogados!”.
Por isso estas linhas, a dizerem da minha mágoa, ao ler num órgão de comunicação social que é propriedade da minha Ordem e que deveria tratar por igual todos os advogados um texto como aquele!
Sejamos claros! A advocacia em prática individual é boa como boa é a advocacia em contexto societário ou em contexto de empresa se tiver a preparação técnico-jurídica e deontológica que tem de ter seja que advogado for!
Menorizar seja que forma seja em que a advocacia se desenvolve não serve os interesses dos clientes, não serve o que importa aos Advogados, nada faz para que a Justiça se faça.
Interessa apenas a uma agenda eleitoralista que se instalou já marcadamente no pulsar diário da nossa Ordem e que bom seria que não continuasse a estragar o que quase um século de história consolidou; interessará a quem tente tapar com falsas guerras intestinas erros tremendos (como foi o de ter feito cessar a prática com muitos anos de dedicar a cada forma de exercício da profissão uma estrutura “autónoma” (entre aspas, como é óbvio) em que a massa crítica de cada uma delas pudesse trazer contributos a todos); não interessa a quem anda todos os dias deliciado a “fazer vida dos problemas dos outros”.
E por aqui me quedo, antes que a mágoa me ponha a escrever mais coisas que penso…
É que já dizia o António Aleixo: “Para não fazeres ofensas / e teres dias felizes, / não digas tudo o que pensas, / mas pensa tudo o que dizes.”