terça-feira, 1 de setembro de 2020

Ser "parte do problema" é uma opção... má, mas uma opção...







Estou, francamente, farto de toda esta polémica à volta da Festa do Avante!

Honestamente, não creio que ali haja maior possibilidade de contágio do que houve nas touradas que se realizaram sem qualquer distanciamento social, nas cerimónias religiosas sem máscara, no “tudo ao molho e fé em deus” que têm sido as Feiras do Livro, nos jantares apoteóticos de alguns partidos, nas praias sem vigilância suficiente do número de “acessos”, nos comboios cheios (sei lá, em tanta coisa que me parece estranha, mas que, de facto, aconteceu)…
Nem dou para o peditório de que aquilo é um festival de música: não é! É uma atividade política de um partido político e tem de ser encarado como tal… afinal, por mais que isso custe a algumas pessoas, ainda temos uma Constituição em vigor e (contra ela, rectius, por causa dela) proibir a atividade política de um partido seria uma estupidez que qualquer Tribunal não poderia deixar de impossibilitar.
E, se não dou para esse, ainda menos dou para o daqueles populistas (uns encartados, outros de trazer por casa, outros até involuntários – que a propaganda dos encartados é forte e há quem não saiba ou queira usar os neurónios com que a inteligente natureza os dotou) que vêm com a treta de que o PCP está a fazer chantagem, face à necessidade de que se acha titular, no que ao próximo orçamento de Estado diz respeito…

O que me incomoda, verdadeiramente, é que o PCP esteja notoriamente a usar a sua Festa anual para fazer oposição ao Governo…

Senão, vejamos: nestes últimos dias – dias? semanas! –, o que se tem visto (já) não são ataques ao PCP por levar a (sua) avante e fazer a dita Festa; são mesmo ataques ao Governo, ora porque autorizou, ora porque não divulgou os critérios sanitários (ou porque os divulgou), ora porque a Graça isto, ora porque o Costa aquilo…
O PCP – e não me venham com tretas: nada no PCP é involuntário ou impensado – conscientemente, quis, quer e vai continuar a querer que a Festa do Avante seja um ponto de fragilização do Governo, do Primeiro-Ministro e da Administração Pública que, com mais ou menos capacidade e lógica, vem conduzindo o país nesta luta contra uma pandemia terrível (e, sem pejo o digo, com alguns claros sucessos, se comparados os resultados dessa luta com o de outros países).
Pelo meio, abre caminho a que os populistas (quer os encartados, quer os de trazer por casa, quer até as “vítimas” da propaganda) vão fazendo o mesmo caminho e batam no ceguinho de sempre (veja-se as marchas lentas, veja-se o encerrar de lojas, veja-se quase tudo à nossa volta)… e com óbvio sucesso, a avaliar pelo que é dito e ouvido nas esplanadas, tascas e cafés…


Incomoda-me pensar que o PCP sabe que prestaria melhor serviço à comunidade se tivesse cancelado a realização da Festa do Avante! e tivesse sido instrumento de saúde pública, ajudando os que estão na luta contra a pandemia na consciencialização de que o trabalho essencial é o de todo e qualquer cidadão que, no seu círculo restrito (familiar, laboral, social, etc.), vai praticando as medidas que impedem a propagação do vírus. E, sabendo-o, opte por fragilizar a mensagem, opte por fragilizar os mensageiros e opte por fragilizar os resultados. Fazer oposição com política de terra queimada não costumava ser modus operandi do PCP e dos seus dirigentes…


O PCP – como o BE, como Os Verdes, como o PAN – demonstrou, nos últimos anos, na bendita e infelizmente não repetida “geringonça”, que é – quando o taticismo primário não o impede – bem capaz de ser parte da solução… o futuro convoca-o, sob o meu ponto de vista, convoca todos, para voltar a sê-lo, em breve…

O problema é que – corra a Festa! bem ou corra a Festa! mal – a imagem que pode ficar no fim do seu promotor, de desprezo pela saúde pública e de oposição de “bota abaixo”, é bem capaz de relegar o PCP – por culpa sua e por ação própria – à condição de “parte do problema”...


E se, como a lógica manda, isso vier a significar que perderão aqueles que – em tese – se queriam proteger, de nada nos adiantará dizer que se voltou o feitiço contra o feiticeiro: não adianta chorar sobre leite derramado, quando foi derramado por culpa e ação do “chorador”…

É que ser "parte do problema" é uma opção... mas é uma opção muito má...