terça-feira, 29 de junho de 2021

O CAMINHO FAZ-SE CAMINHANDO… (ou uma - queria-a eu! - breve reflexão sobre o caminho que fiz, pensando o Referendo e sobre a Previdência dos Advogados).


Sejamos clamorosamente francos?

No primeiro momento, pensando no referendo a que todos vamos ser chamados a intervir, no próximo dia 30 de junho, pendi para o “não”…

O meu cenário inicial era o seguinte: algumas pessoas cuja convivência me fez confiar com dificuldade nos seus propósitos apresentaram uma pergunta que divide ainda mais a Ordem (entre novos e velhos, ricos e pobres, advogados em prática individual e advogados em sociedade e/ou advogados de empresa) e que, tristemente, poderia deixar os meus Colegas (mais) velhos em maus lençóis: o resultado da pergunta feita, no extremo, pode ser que os que estão reformados e os que estão a caminho da reforma deixem de receber a sua pensão: saindo os mais novos que eles (e que são quem as paga, todos os meses), as pensões dos mais velhos não teriam de onde vir.

E isso teria implicações sérias: a uma distância já não de quinze ou vinte anos, mas antes a uma de três ou quatro, a CPAS estaria falida…

E este foi o primeiro abalo no meu raciocínio: os dados atuariais que a CPAS divulga  demonstram que, sem mexidas sérias nas fontes de financiamento da CPAS (ou seja, sem aumento de contribuições e/ou de contribuintes), em quinze ou vinte anos aquele “monstro sagrado” vai ser incapaz de gerar as receitas necessárias para pagar as pensões a que está obrigado: vai falir!

Ora, se vai falir (e vai!), porquê aguentar por mais tempo uma instituição que serve pouco os Advogados que são a maioria (os que ganham pouco, mas não deixam de ser – e querer ser! –Advogados por isso; as Advogadas que querem ser mães e terem os mesmos direitos que têm as demais profissionais liberais recém-mamãs; os que acham que, se pagam impostos e contribuem para um sistema de previdência, ela tem de ter qualquer coisa – muita coisa! – de assistencial em momentos de prevalência de doença, especialmente doença prolongada), apenas servindo para (passe a expressão) engordar “barões, baronetes e afins” de uma Advocacia que com a mania que é elite, esquecendo que, antes do mais, deve ser (e querer ser) servidora do Estado de Direito e dos Direitos Liberdades e Garantias?

E este foi o segundo abanão que apanhei: quando veio aquele “licenciado-em-direito-que-deve-ter-uma-cédula-igual-à-minha” tratar-me por tu, numa soberba indecente e numa total ausência de sentido de colegialidade (quanto mais, como se exigia, de solidariedade intergeracional), própria daqueles que vivem confortavelmente à sombra do que a CPAS lhes permite e que não permite a milhares de Advogados eu calei, mas não gostei.

Não gostei porque percebi claramente que esta CPAS só interessa a dois tipos de Advogados: os que estão reformados (que, infelizmente com legitimidade, temem pela sua sobrevivência) e os que ganhando para descontar mais do que EUR 251,00 por mês, se refastelam na possibilidade que só a eles é dada de “descontarem pelo escalão que lhes apetecer”…

Não interessa, definitivamente, aos milhares de Advogados que ganham menos do que o equivalente aos tais EUR,251,00 mensais! Não interessa aos que veem os outros serem livres, mas não se podem dar ao luxo de descontar menos que EUR 251,00 (imagine-se o despautério), porque ganham seiscentos ou setecentos euros por mês, porque essa sua liberdade lhes é cortada e não são livres de escolher! Só os ricos podem escolher, na visão hodierna da CPAS…

E, se é verdade que tenho a fortuna de estar entre os que deveriam estar a descontar mais (aproveitando a liberdade que tenho e o facto de não confiar na CPAS, não o faço), não menos verdade é que tenho o privilégio de ser o único no meu escritório com mais de meia dúzia de anos de Advocacia e de, por isso, ser o único que me posso dar a esse luxo: a carteira de clientes que já fui fazendo foi-me garantindo descontar para CPAS abaixo do meu rendimento real; os outros cinco que cá trabalham, descontando pelo mínimo embora, todos eles descontam acima do que é a sua capacidade contributiva…

Alguém imagina que quem tem milhares de euros de rendimento alegadamente provenientes da Advocacia (estou a lembrar-me de um que nem desconta para a Segurança Social sobre a fortuna que ganha em pareceres ou nas suas intervenções em tribunais arbitrais porque desconta para a CPAS, alegadamente como advogado) a ter de descontar com base nesses milhares de euros para a Segurança Social?  

E levei o terceiro baque quando vi um Bastonário da Ordem num vídeo bonitinho a explicar o seu voto…

Baque, sim, verdadeiro baque! É que o tal vídeo bonitinho foi pago com o dinheiro que deveria ser de todos, mas que atual direção da CPAS decidiu usar apenas para se tentar perpetuar e tentar perpetuar o modelo que não serve todos, mas apenas os que beneficiam deste modelo…

Percebi que o que verdadeiramente está em jogo é a perpetuação daquilo que eu sempre combati e que combaterei enquanto a toga for a minha segunda (segunda não: única) pele!

Quer-se a toda a força (à custa dos mais novos, dos que amam a Profissão mas ainda não tiveram tempo ou oportunidade de tirar dela proveitos generosos, dos que, num contexto complexo de massificação, pagam mais do que podem) a perpetuação de uma elite que não o é e que deveria ter vergonha de querer sê-lo…

E, se é para ajudar a tornar os Advogados um bocadinho mais iguais entre si, neste caso levando a que todos possam (rectius, tenham de!) descontar de acordo com a sua capacidade contributiva, então a minha escolha só pode ser uma: maturada e muito refletidamente, vou votar pelo sim!

Duas últimas notas: (primeira) a de que não me esqueci dos nossos velhos!

Sei, pelo contrário que a Advocacia se saberá mobilizar para os defender e bem tratar!

(A segunda): quando tudo fiz para ajudar a eleger o atual presidente do Conselho Geral da Ordem dos Advogados (e como me arrependo disso!), a razão política primeira para o ter feito foi o facto de o meu candidato ter sido o único a assegurar a todos que o seu trabalho iria ser no sentido de assegurar que as contribuições de todos para a previdência dos Advogados se fariam em respeito pelo princípio da capacidade contributiva.

O tempo que se perdeu (aliás, que o bastonário da Ordem dos Advogados perdeu!) sem nada fazer para que as nossas contribuições respeitem esse princípio sagrado foi o que tornou impossível que isso se possa fazer pela CPAS e que, neste momento, apenas a Segurança Social seja solução…

Não tenho a esperança de que o bastonário da Ordem dos Advogados tenha a coragem de assumir que só mesmo pela integração da previdência dos Advogados na Segurança Social essa forma justa de contribuições será possível!

Mas, afinal, como a sua forma de fazer política na Ordem é a de andar a reboque dos acontecimentos (e é!), bem pode acontecer que a sua inércia seja a maior aliada dos que esperam por essa integração e pela justiça que ela trará ao sistema e à Advocacia…  

A esses, apelo que deem um primeiro passo e (mesmo desconfiando de algumas coisas, naturalmente), amanhã, votem SIM!


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