quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Requiem aeterna dona eis


Custa-me lidar com a morte…
Por muito que o tempo passe, por muitas vezes que tenha realizado ou tenha de realizar o ritual de arranjar flores (em tempos arrancava-as de propósito – preferia assim, não sei bem porquê) para prestar uma última homenagem a alguém que passou e, quase sempre mais importante, dar um abraço (de) amigo a alguém que chore essa passagem, por muito que me tente convencer de que tenho de combater em mim a dor, com tantos anos já, das passagens que me marcaram, que me doeram, continuo a dizer sempre a mesma coisa: não lido bem com a morte.
Mas, hoje, acho que a minha forma de a encarar piorou… a propósito de um velório, a que fui porque não prescindiria nunca de abraçar uma enorme amiga que sente e disfarça a dor da passagem de alguém que lhe foi muito querido, senti-me morto (matado não é correcto, mas expressaria melhor a sensação que tive: a de ter morrido de “morte matada”, como dizia, brincando, quando era puto, por contraponto à morte natural, a que chamava “morte morrida”).
Depois de ter estado um pouco com quem lá me levara, acima de tudo, tentei abeirar-me de uma outra pessoa que estava lá também e que – disfarçando de igual maneira – sentia, decerto, a mesma dor da minha amiga. Essa pessoa (de quem me sinto amigo, de quem senti amizade, durante muito e muito bom tempo, mas que me riscou do “círculo” por uma estupidez que sei mal ultrapassada, se é que ultrapassável) ostensiva e dolorosamente virou-me as costas e nem sequer me deu tempo para que a cumprimentasse, lhe transmitisse a vontade de estar perto para o que fosse preciso, como sinto que (alguém que se sinta) amigo deve querer estar: pura e simplesmente virou-me as costas…
Doeu-me. Doeu cá bem dentro, pela sensação de que aquele gesto era, para todos os efeitos, o da minha “morte matada” para aquela pessoa, tão importante para mim em tão importantes momentos da minha estúpida existência.
E percebi porque razão há quem fale em morte emocional e por que há quem tanto use a expressão “aquela pessoa morreu para mim”.
E doeu… ainda mais porque, do “crime” que motivou esta pena de morte, sei bem que estou inocente.
Por isso, como “manifestação de última vontade”, digo algo que ouvi atribuído a Jorge Luis Borges: "Se pudesse viver novamente, na próxima vida tentaria cometer mais erros". Pelo menos, gostaria de ter a honra de cometer mais erros de ser amigo como gostosamente cometi aquele.
Mereço pois que me rezem um “requiem aeternum dona eis, domine”.
Nem que seja no inferno…

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

A montanha que pariu um rato...

Ontem, como muitos, acabei o meu dia de volta de um aparelho de rádio, a tentar ouvir a comunicação que o Senhor Presidente da República decidiu fazer ao país, não se sabia bem a propósito de quê.
Ouvi (que o respeito é bonito e eu gosto).
Espantei-me (porque não me pareceu politicamente avisado o agendamento e uma comunicação ao país para comunicar que a única coisa que tinha sido descoberta de errado fora o facto de o Presidente da República, numa lógica discutível no plano político, poder ter de ouvir mais gente do que este Presidente da República quereria, mas mantendo como poder próprio e solitário o de dissolver a Assembleia Legislativa Regional).
Ri-me (de mim mesmo, porque criei expectactivas relativamente àquela comunicação ao país e, afinal, a montanha tinha parido um rato).
Só não percebi o porquê de tanto show. O jornal da manhã deu-me porém, alguma luz: afinal, nada daquilo era novidade para a Presidente da Direcção do PSD.
E, afinal, começa a aquecer a temporada eleitoral nos Açores...