domingo, 21 de fevereiro de 2016

Um pouco mais de mim...

  INOCÊNCIA
  


  Ali era “o Verde”.
  Era assim que o chamávamos,
  Mesmo quando já era
  Um chão agreste
  Coberto de folhas que morriam
  E que, já mortas,
  Iam tomando novas cores:
  Acastanhadas algumas,
  Outras um tom amarelo
  Carregado, outras ainda
  Aquela cor avermelhada
  Que as folhas das parreiras
  Tomam quando passa
  O tempo do vinho.

  Era o nosso “Verde”.
  Era o espaço do carinho.
  O espaço em que sentíamos
  Que a inevitável desgraça
  Do passar do tempo
  Não sabia acontecer
  (porque era o tempo do carinho
  E no tempo do carinho
  Nem um segundo se perde!).

  O nosso verde era um campo
  De batalha em que os soldados
  Eram os dedos
  E os generais eram os sonhos
  E as maiores batalhas
  Se ganhavam quando os botões
  Saltavam das casas que os prendiam
  E a liberdade se convertia
  Em descoberta e se fazia
  Encanto e deslumbramento
  À vista do teu peito
  Despido de idade.
   
  Era onde os teus dedos
  Percorriam os meus dedos
  Cientes – como os meus! –
  De que só entrelaçados
  Faziam sentido.
   
  E era onde os lábios (enganados
  Do desejo) se encontravam
  E faziam do tempo perdido
  O tempo do fim dos medos!
   
  Custa a crer que tenha sido
  Ali que cometemos o pecado
  De nos deixarmos murchar
  Um do outro…

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