Meu
caro Amigo,
Li,
num espaço cibernético qualquer, daqueles que frequentamos, a tua reação ao
lamentável cartaz online do BE que fez uso da imagem icónica do fundador da tua
Igreja para festejar a adoção por casais do mesmo sexo.
E vi
o acinte com que o fizeste, levando para a religião algo que é secular, quanto
a mim, infelizmente (embora, naturalmente, não tenhas sido o único,
porque a secularização é algo de que ainda poucos conseguiram libertar-se)...
Antes
do mais, deixa-me que te diga que repudio a ação do BE, que preferia que não
tivesse sido levada a cabo. Tendo, nesse particular a secundar a opinião da Deputada Marisa Matias.
Como
sabes, não sou crente, considerando mesmo que a minha característica de incréu
é uma das que mais me impulsiona no meu dia e o que nele faço.
Mas, do tempo em que
vivi essa coisa deliciosa que é a fé, ficaram-me para a vida os ensinamentos de
cariz ético, ético-filosófico e ético-sociológico. Os do Nazareno, pelo menos.
Um
deles (um dos que mais faço uso) é o de que "a César o que é de César; a
Deus o que é de Deus". E, dele, tiro duas consequências: abomino quando
vejo a secularidade a usar a religião para a sua ação política e abomino (nem
mais nem menos: abomino) quando vejo a religião a usar a espiritualidade para
fazer política.
Ambos
os comportamentos deveriam estar vedados a ambos os lados (e, por favor,
entende lados como partes do mesmo e não como opositores).
O que
o BE fez foi execrável? Foi!! Mas tê-lo-á sido menos do que o que tantos curas
fazem, de cima dos seus púlpitos de espiritualidade ao chamarem assassinos aos
que defendem a não criminalização da IVG (e repara que falei da criminalização
precisamente para demonstrar a intromissão na esfera do século, pois só à
secularidade - democrática - pode caber a definição do que é ou não é punível
criminalmente)? Nem menos nem mais: igualmente!
O que
o BE fez foi desrespeitoso? Foi! E foi-o abjetamente!!
Justifica
um discurso político de uma agregação de chefes religiosos através de um seu
alto representante, indo além da condenação espiritual e entrando (aliás, como
fazes também) no campo que é de César? Creio que não - creio, aliás, que nada
justifica!
Como
não (se) justifica coisas como apelo ao voto descarado em Domingo de eleições
em determinados partidos, a partir do púlpito, o que já ouvi numa Sé Episcopal.
Como
não (se) justifica que hajam alas de determinadas religiões em parlamentos
nacionais (o Brasil será o mais evidente, mas outros há).
Como
não justifica o ataque que alguns, pela via do secular (porque o maus exemplo
do nazismo não se extinguiram no mundo) ou pela via da religião (basta ver o
que passam os cristãos na Síria), fizeram ou fazem à possibilidade de cada um
viver a sua espiritualidade própria, como se isso não fosse um seu direito
essencial e inalienável.
A
minha crítica ao Bloco de Esquerda é mera e absolutamente secular: não se usa
uma figura da religião (seja ela qual for) para se fazer política.
O
apontamento que te faço, curiosamente, é igual: não se deve usar a religião
para fazer política...
Por
isso, se me permites o abuso, peco-te que lutemos lado a lado para efetivar (eu
no secular, apenas - e por falta da fé - tu nas duas bandas do seres humano)
esse ensinamento do teu Deus que há mais de 2000 anos deveria estar enraizado (afinal,
foi o próprio Yeshua que o determinou): "a César o que é de César; a Deus
o que é de Deus".
Creio
que muito mais bonitamente poderemos ser eu incréu, tu crente... e, na verdade,
nem um nem outro (eu por outra coisa, tu por fé) queremos outra coisa, viver
bonitamente...
Um
enorme abraço deste que, admirando-te e admirando-a sempre (apesar de a não
ter), há de lutar em todos os momentos para que possas viver como entenderes a
tua fé, a tua espiritualidade... nem que seja porque só assim assegurarei
liberdade à minha secularidade...
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