sexta-feira, 12 de setembro de 2014

A covardia...

A vida política neste país tem coisas que me espantam e que me espantam tremendamente…
Olho para esta notícia de jornal e percorro a minha memória em busca de similitudes.

Encontro-as num instante: também na Figueira da Foz, também num evento essencial para a vivência de um órgão máximo de uma das profissões do foro, mas em 11 de novembro de 2011 e no VII Congresso dos Advogados Portugueses, a que já então era (e malogradamente continua) ministra da Justiça, apresentou-se de negro e discursou.

Discorreu um dos discursos mais abjetos, mais negros, mais vingativos e mais desfasados do local e da realidade de que tenho memória num político…

Naquela ocasião, à medida que ia ouvindo as palavras (algumas arrepiaram-me verdadeiramente, como a afirmação de que era advogada – coisa que não pode ser quem age como ela agiu e age e, principalmente, coisa que não se pode afirmar quem não tenha a inscrição em vigor junto da Ordem, como ela não tinha – ou que estava ali por direito próprio – como se não fosse pelo voto, mas antes por uma espécie de “direito divino” que delegados e presentes por inerência ali estavam), ia-me confortando a noção de que a ministra da Justiça tinha uma coisa de bom: quem vai (sem rede) à casa dos advogados insultar os advogados, os seus órgãos e os seus dirigentes deve ser uma pessoa de coragem…

Afinal, a ministra de justiça tinha rede e uma rede enorme.  E essa rede era a quantidade de gente que (de pé, em alguns casos) aplaudiu a figura quando (noutro gesto de uma falta de respeito imenso, desrespeitando mesmo o orador que falava já no parlatório) se levantou e saiu da sala…
Demorei muitos anos a perceber de onde vinha a rede e por que razão a rede tinha tido (ela própria) o desrespeito pelo – também – seu Congresso ao aplaudir de pé aquela vergonha…

Mas logo nessa altura perdi a ilusão de que na coisa que a ministra ali fora fazer houvera fosse o que fosse de coragem.
E foi precisa uma entrevista da ministra da Justiça na televisão há uns dias para eu perceber que rede era aquela e porque agira daquela forma: dizia a dita que o que está a fazer à justiça em Portugal (o Código de Processo Civil, o Inventário nos notários, esta vergonha que é o mapa judiciário) não era algo só dela, que era algo pensado e maturado há muito por um grupo muito alargado de pessoas, tendo nomeado na altura duas (o omnipresente João Correia e o Dr. Castanheira Neves), mas dizendo que era um grupo alargado e antigo. Lembrei-me das palmas e de tantos que reconheci como atores delas… E lembrei-me de muitas afirmações de muitos e percebi que era também a eles que a ministra se referia.
Hoje, dia 12 de setembro de 2014, num momento em que se discutia “A Nova Organização Judiciária – Desafios e Dificuldades”, também na Figueira da Foz, curiosamente, a ministra não foi…
E eu lembrei-me de que não estariam lá os que aplaudiriam cega e (em muitos casos) acefalamente e que isso é boa razão para não ir: faltava-lhe a rede…
E, agora, quase três anos volvidos sobre o discurso onde ainda tentei encontrar coragem, percebo o que é que está em causa: a coisa mais dura de se ver em política, a covardia.

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