sexta-feira, 31 de julho de 2015

Portugal a sofrer as consequências da sua própria iliteracia política...

Ouvi, há pouco, a entrevista da Dra. Manuela Ferreira Leite à TVI.

E lembrei-me de uma coisa que digo há três ou quatro anos: a coisa politicamente mais difícil no país que a dupla Passos-Portas criou deve ser um verdadeiro social democrata estar inscrito no PPD/PSD...

Lamentavelmente, em Portugal, isso quer dizer nada: fruto da iliteracia política que sucessivamente foi proporcionada aos portugueses, as consequências políticas da deriva (para longe da social democracia) dos partidos que compõem este (des)governo vai ser nenhuma.
Num país politicamente educado, que tivesse sido ensinado a pensar (e pensar democraticamente), a circunstância de o PPD-PSD se ter convertido num partido que nega todas as funções sociais do Estado e se propõe transferi-las para o mercado (v.g, para as IPSS, ou seja, para as suas próprias clientelas, gerando proveitos para elas e tachos para os seus militantes, que se manterão daqueles proveitos), entre as demais coisas em que se tornou, a consequência seria lógica: os eleitores da matriz social-democrata deixariam de votar no PPD-PSD.
Quem lucraria com isso? Naturalmente, o PS, que traz no seu programa eleitoral essa matriz social-democrata da política e que deveria absorver esses votos, pelo aspeto ideológico e programático.
Não creio, porém, que assim venha a suceder no dia 4 de outubro: e nem é tanto porque
o preconceito contra a "esquerda" é ainda demasiado vincado na vida sócio-política do nosso país. 
Na verdade, o PS pode até ser mais social-democrata agora do que era há 30 ou 40 anos atrás (curiosamente, sempre foi assim, que, v.g., Álvaro Cunhal se referia aos socialistas: como ideologicamente posicionados na social-democracia; e tinha razão, a meu ver).
No entanto, os que sempre foram votando no PPD-PSD  há 10, 20, 30 ou 40 anos (e que o fizeram, as mais das vezes, seguindo sociais-democratas) não têm, na maioria dos casos, literacia política suficiente para perceber que o único partido que se apresenta a eleições com um programa próximo de ser social-democrata em Portugal é precisamente o Partido Socialista.
E, porque nem o perceberam nem o PS se deu muito ao trabalho de explicar que assim é (confesso que não sei bem porquê), a maioria absoluta que pede fica a anos-luz, para o bom e para o mau...
E isto, fruto do pouco saber sobre ideologia e sobre a consequências que ela tem de ter nas escolhas que fazemos em sociedade.

Claro que também há aqueles que nem coluna vertebral têm... esses vão continuar a dizer que são social-democratas e que o PPD-PSD o é e sempre foi... mas, se formos ao fundo da questão, perceberemos que isso está na esperança de não perder papel numa qualquer sociedade de advogados, numa qualquer Santa Casa da Misericórdia, numa qualquer associação mutualista, ou até de não deixar de receber as migalhas de umas senhas de presença numa assembleia municipal ou de freguesia... 

O que me faz voltar ao princípio: o que pior aconteceu a este país é que lhe tivessem proporcionado não educação, mas iliteracia política: os "xicos-espertos", "patos bravos" e demais vigaristas da nossa praça estariam muito menos à vontade... 

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