
Quando o Barão de Coubertain desenhou a imagem que todos associamos aos Jogos Olímpicos, quis, no essencial, entrelaçar culturas, entrelaçar povos, simbolizar a união dos esforços das nações a favor da paz e dos valores que associo a esse jogos.
Os Jogos – lembro-me sempre disso – foram a proposta de um grupo de cidadãos para demonstrar a premente necessidade de se regressar a uma paz que se fazia ameaçada, na Europa, já nesse final do século XIX.
Lembravam (e bem) que, durante os Jogos Olímpicos da Grécia antiga, todas as acções de natureza bélica eram suspensas e que era dada primazia à paz e à concórdia.
Ora, eu que sou a favor da forma como o nobre povo tibetano luta, há já anos demais, pelo seu imanente direito à auto-determinação (apesar da minha dificuldade em aceitar a existência de Estados de pendor teocrático, creio que os valores da liberdade e da auto-determinação são intocáveis), ando um pouco espantado com a forma como se vêm desrespeitando símbolos de liberdade, igualdade e paz a propósito dessa luta.
Custa-me tremendamente ver uma instituição de paz, de aproximação e de concórdia a ser desrespeitada por uma "guerra" político-independentista, por muito que seja justa a pretensão por detrás dela.
E digo isto porque me custou tremendamente ver a chama olímpica apagada por quem luta (ou ajuda a lutar) por ideais de liberdade e independência: não se constrói liberdade nem se deveria querer independência sobre a ofensa de símbolos que se foram tornando universais.
E, como não esqueço que a chama quer lembrar Prometeu, o que roubou o fogo aos deuses (e qual outro fogo para além do do conhecimento importa?), fica-me um amargo de boca…
Espero que as coisas possam mudar. Não que com “isto” vá passar a pensar que a liberdade e a auto-determinação tenham perdido importância. Mas fica-me o receio de que o possa perder o respeito pelos valores mais elevados do ser humano nesse caminho. E isso não me agrada.