Confesso que hesitei muito em
publicar este desabafo (que escrevi para me ajudar a passar a tristeza e que
talvez devesse guardar junto das outras centenas de folhas de desabafos que
escrevi e jamais publicaria)…
Porém, perante uma interpelação
direta feita hoje (sic: “diz quanto ganhaste”, referindo-se ao tempo desde que
estou a presidir ao IAPI - Instituto dos Advogados em Prática Individual), a
publicação dele impôs-se-me à consciência. E ainda mais se me impôs quando
amigos me avisaram que esse era um dos temas que o candidato a Bastonário da
Ordem, Guilherme Figueiredo, usou para atacar a atual gestão da OA e a sua
Bastonária (a par de outros mimos, como a afirmação de que duvidaria que eu me
dedicasse efetivamente à advocacia).
Admito que o conhecimento de um
vídeo em que o disse numa das suas intervenções públicas me fez atingir o ponto
de saturação face à falta de vergonha na cara com que alguns estão nesta
campanha (e estiveram, nos últimos anos, na oposição à atual direção da OA)!
Quanto ao que ganhei, respondo
publicamente (e fá-lo-ia olhos nos olhos, se pudesse cruzar-me com a pessoa em
causa). E faço-o com duas palavras: não ganhei!
Posso afiançar que, não fora o
facto de a devassa ser imediata (disso se encarregariam seguramente alguns), de
essa devassa poder implicar os meus clientes e (principalmente – porque a
deontologia, para mim, é sagrada) de ter de salvaguardar a identificação dos
clientes que me pagaram e fizeram retenção na fonte, não teria qualquer
problema em anexar aqui a minha Declaração de Rendimentos: poderiam os meus
Colegas e quem me lê verificar que nem um tostão recebi da Ordem dos Advogados
Portugueses, desde que tomei posse no IAPI - Instituto dos Advogados em Prática
Individual, seja a título de ajudas de custo, seja a título de senhas de
presença, seja a título de honorários (não sou "avençado" da OA, como
alguém me apodou)!
É certo que as despesas em que
incorri em representação da OA e que não teria se não fosse essa representação,
foram-me reembolsadas nessa justa e precisa medida (e, por exemplo, as
refeições que fiz aquando de qualquer ato em representação do Instituto a que
tenho muito honra de ainda presidir, paguei-as do meu bolso: se almoço todos os
dias em restaurante e todos os dias pago do meu bolso em Espinho ou no Porto,
também em Lisboa as paguei e sempre pagaria da minha algibeira!).
Tenho muito orgulho na ética e
nos princípios em que os meus pais me educaram e um desses princípios (como,
felizmente, centenas de clientes meus podem demonstrar) é o de que o dinheiro
dos outros é sagrado! E, por maioria de razão, o dinheiro das quotas dos meus
Colegas é dinheiro dos outros.
Sou, orgulhosamente, o primeiro
licenciado de uma família de classe média (sou filho de dois honrados
funcionários públicos, neto, de uma banda, de um vidraceiro e de uma criada de
servir e de um pedreiro e de uma lavradeira, da outra); não tenho pai rico nem
fortuna de família que me permitam custear as despesas inerentes ao facto de
estar presidente de um Instituto da Ordem dos Advogados Portugueses. Isso
bastaria para que tivesse de ser e não as suportasse. Mas também é verdade que não
me sinto na obrigação de pagar para servir a Ordem.
O que sinto (e senti sempre) é a
obrigação de não me aproveitar da minha Ordem seja em que circunstância for. E
tenho consciência de que nunca o fiz!
Quanto ao facto de me dedicar
pouco à advocacia, posso assegurar que tenho algumas centenas de processos no
Citius, tenho uma clientela (que prezo muito e que faz o favor de confiar-me a
sua fazenda e/ou a sua liberdade – e que, de facto, sentiria a minha falta em
alguns momentos nestes dois anos e meio não fora o facto de a Sra. Dra. Joana
Pinho, que me escolheu para patrono e me atura como Colega ter estado sempre
por ali, a amparar-me as saídas).
Asseguro que, entre as tantas
outras coisas que o Instituto fez, as perto de cem (sim, orgulhosamente quase cem!)
iniciativas de formação que o IAPI - Instituto dos Advogados em Prática
Individual organizou e levou a cabo – e que, felizmente, perto de 3.000
Advogados que estão longe dos grandes centros urbanos e que delas beneficiaram
tantas vezes agradeceram –, fizeram-se à custa de muitas horas de sono que
ficaram por dormir, de muitos livros que deixei por ler, de muitos filmes que
queria ter ido ver e não fui, de Amigos que queriam a minha companhia e não a
tiveram, de uma namorada que me deixou dizendo que eu tinha escolhido a Ordem e
que não dava para competir com a Ordem… jamais à custa dos meus clientes,
jamais à custa dos assuntos que me confiaram, jamais à custa da minha
profissão: escolhi fazer vida dos problemas dos outros e quero morrer a fazer
vida dos problemas dos outros; para isso, não seria burro ao ponto de deixar de
fazer vida dos problemas dos outros.
Por isso, aos que dizem de mim
tais ignomínias (sei bem a soldo de quem), peço-lhes que descansem: não ganhei
um cêntimo com o cargo que exerço, mas a minha profissão ainda me permite viver
com dignidade (embora sem luxo, que facilmente dispenso).
Deixem é de me enlamear a
reputação (que demorei anos a construir): é o meu cartão de visita e preciso
dela para continuar a poder fazer vida dos problemas dos outros, única coisa
que me faz feliz! Ainda mais porque, ao fazê-lo, falham no alvo.
E pronto: está feito o desabafo…
venham agora os (proto)acólitos zurzir nele, como se lhes impõe...
Uma última palavra para pedir
desculpas à minha Bastonária Elina Fraga: desculpa-me, minha Amiga! É verdade
que pediste a todos os que estão contigo neste caminho até à reeleição que não
descêssemos ao nível a que alguns (os tais acólitos bem industriados e capazes
das maiores vilezas) levaram esta campanha.
Tentei até à exaustão! Mas eu
sou filho de boa gente, da melhor das gentes! E, perante o episódio de hoje,
tinha de dizer “basta!!!”.
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