sexta-feira, 25 de julho de 2014

Os "pragmáticos"

Li, numa entrevista no FB que o século XXI há de ser dos pragmáticos, depois de esquerda e direito terem destruído o mundo...
A coisa fez-me pensar: esquerda e direita traziam consigo ética, princípios, valores e isso ia mantendo o mundo equilibrado.
Um pragmático está disposto a perder (tempo, dinheiro, etc.) preocupado com o outro, se isso não lhe trouxer vantagem?
Um pragmático aceita que o mundo e ou outro não é um meio, mas um fim?
Olho para os "pragmáticos" que conheço e parece-me que não.
São os que educam os filhos para o ter e não para o ser, que lhes incutem a competição desde antes do início da escola, que não admitem perder e são incapazes de se aperceberem de que há muitos outros pontos de interesse além do seu próprio umbigo.
Gente que não vê problema em corromper, se isso lhe trouxer a vantagem que merece; gente que se deixa corromper, por mero pragmatismo ("tinha de ser, não é?"; "se não fosse eu, era o tipo da secretária ao lado...").
O pragmático acha normal que a empregada da padaria trabalhe dez ou doze horas por dia, seis dias por semana para ganhar 600€ (afinal, é bem melhor isso que trabalhar oito e ganhar o salário mínimo nacional) ou que o dono do café tenha um empregado com descontos para a segurança social e os outros todos "ao negro", sem direitos, sem o mínimo de proteção (afinal, é melhor isso que ter prejuízo, que o Estado já leva que chegue, não somos obrigados a tanto).
E é por causa dos "pragmáticos" que, hoje, a saúde, a educação, a justiça deixaram de ser direitos para passarem a ser "áreas de negócio"...
É por causa de gente assim que se vão fechar escolas e tribunais: se dão demasiado prejuízo e, ainda por cima, impedem o lucro de quem atua nessas "áreas de negócio", que se lixem as pessoas que ficam privadas desses luxos.
São os pragmáticos que não veem mal nenhum em que um regime ditatorial seja membro da CPLP; importante é o dinheiro que o Obiang vai permitir fazer fluir nos países-membros...

Acho que percebi agora porque não me revejo na política de hoje: eu não quero ser pragmático!

Sem comentários: