quarta-feira, 21 de agosto de 2013

O PRIVILÉGIO DE SER "FILHO DE ABRIL"

É nestas alturas que percebo por que sou de esquerda...
Olho para este texto e imagino já como dirão muitos dos que me dão a esmola do seu convívio que isto é demagogia, que é a mais obtusa forma de afirmar questões laborais dos professores, que a igualdade não se atinge assim, etc...
Eu, porém, tenho a noção de que os meus filhos (partindo do pressuposto de que os terei) não terão o mesmo privilégio que eu tive: o de, chegado o final do percurso escolar, ter o mesmo grau de preparação que eu tive para entrar numa das melhores universidades do país - peço desculpa pelo "snobismo" - sempre tendo estudado em escolas públicas.
Ou seja, estou convencido de que a escola pública estará, quando estas bestas que nos (des)governam - que, aliás, pouco pior têm feito que as que nos (des)governaram antes no que a esta matéria diz respeito - a escola pública formará os filhos dos operários para serem operarios, os filhos de pobres para serem pobres enquanto que os colégios privados educarão os ricos para serem ricos...
Não me incomoda nada pagar a fortuna de impostos que pago, enquanto tiver a noção de que eles servem para que filhos de quem menos tem possam frequentar escolas públicas.
Mas recuso-me terminantemente a pagar um cêntimo que seja dos meus (dolorosos) impostos para que filhos de quem tem muito possam ir para um colégio qualquer, ter a educação que (porque esses vão e, como todos sabemos, o dinheiro não chega para tudo, a manta não estica assim tanto) deixa de ser possível financiar aos que menos podem.
A questão laboral dos professores (qua tale) interessa-me pouco (já disse e repito que eles são essencialmente vítimas deles mesmos e é a eles que há de caber entenderem-se).
O que me recuso é a prescindir do sonho de que filhos de funcionários públicos (mal pagos como os meus eram) podem sonhar, enquanto crianças, subir o "Quebra-Costas" por direito legítimo...
O sonho que eu (que sou filho de dois administrativos da função pública e neto de jornaleiros nos campos e de um pobre burguês vidraceiro), orgulhosamente, sonhei e concretizei...
O sonho que os filhos dos que hoje são administrativos da função pública quase impossivelmente sonharão e (mais impossivelmente ainda) concretizarão...
Por mais nada: porque não tiveram o privilégio de serem, como eu fui, filho de Abril...

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