Uma (às tantas) última reflexão sobre este momento tão delicioso da vida autárquica que é o eleitoral…
Obviamente, para falar da minha terra.
Não porque algo me mova contra o Presidente da Câmara eleito (com quem me cruzei uma vez na vida e que me deixou uma excelente impressão, como pessoa e como “trabalhador” ao serviço do PM); não que me mova alguma coisa contra a sua equipa eleita (tenho os dois seguintes - o Zé Pinho e a Carla Coelho - por bons amigos e tenho a certeza de que gostam imenso de Espinho e que farão o seu melhor; o André Guimarães pura e simplesmente não conheço).
A razão por que não gostei do resultado é mesmo uma questão de princípio(s): há anos – começam a ser anos de mais, bem sei – que ando a estudar a autonomia local e cada vez mais a entendo como essencial para a existência de uma verdadeira Democracia (e eu sou dos que precisa da Democracia como de pão para a boca). E o processo que culminou na preterição do Ricardo Sousa foi, na minha ótica e sempre no plano do(s) princípio(s), demonstração de um desrespeito pela autonomia local que dói constatar: quem demonstra não respeitar o papel das estruturas locais do partido que dirige (ou seja, ali, onde deveria ser mais fácil) demonstra não ter estrutura humane, política e democrática para respeitar o princípio da autonomia local.
Não foi, portanto, o resultado, mas o processo que me fez não gostar da composição da CME que será empossada para os próximos quatro anos.
Aliás imaginava, confessadamente, que o resultado seria este: quando o Partido Socialista prescindiu do seu “melhor ativo” para a refrega eleitoral (e fomos alguns – infelizmente insuficientes – a alertar para o facto), adivinhava-se que a divisão resultaria numa vitória do PPD/PSD em Espinho.
A partir do momento em que se montou a “tempestade perfeita”, juntando ódios pessoais ao pagamento de favores e à ambição pessoal contra os interesses de uma comunidade inteira, tornou-se inevitável uma divisão naquele que foi um amplo movimento sociopolítico em torno do PS de Espinho que começou há oito anos atrás e teve um momento bonito há quatro anos. E isso tornava a vitória do PSD inevitável.
E os números estão aí para o demonstrar: mais de metade dos votos no concelho foram para as duas listas que saíram do que foi o PS de há oito e há quatro anos (o que “talvez” desse para ganhar eleições sem a divisão, embora a matemática em política não seja só somar) e o número de aumento de votantes foi praticamente igual ao incremente que tiveram os partidos que se seguem aos três movimentos mais votados.
E, se sabia que os resultados seriam estes, admito que tinha, ao mesmo tempo, uma “secreta esperança” e um “inconfessável receio” de que, à semelhança do que aconteceu na AM, os eleitores tivessem obrigado a CME a ser um espaço de debate, de discussão, de negociação e de política a sério nos próximos quatro anos. Sob o meu ponto de vista, teria sido importante que não houvesse maioria absoluta de partido ou movimento nenhum também na CME: a minha utopia de sempre (e um conhecimento do que é a realidade de Espinho) faz-me acreditar vivamente que a terra onde nasci e na qual quero muito que os meus sobrinhos tenham futuro precisava de um resultado eleitoral de “3-2-2”, em que Presidente da Câmara tivesse de trabalhar – preferencialmente – com todos os vereadores ou, pelo menos, com duas/ois delas/es, para programar, projetar e executar. Importava neste tempo que houvesse efetivos (e não apenas propalados) respeito e consideração pelas várias visões em que Espinho se decompõe.
Não tendo sido isso o que aconteceu, desejo ao presidente da Câmara Municipal de Espinho eleito a melhor das sortes, à sua equipa o mais profícuo dos trabalhos: olhando para o que espero que seja o futuro dos meus sobrinhos, desde já lhes agradeço.
(Uma nota final, para que não restem dúvidas: não era à Maria Manuel ou ao Luís Canelas que me referia quando falei de ódios, favores ou ambição; se é verdade que são capazes desses sentimentos (e ainda bem, porque só demonstram a sua humanidade), também é facto que são demasiado humanos para se deixarem motivar na respetiva ação por qualquer um deles… um dia destes, talvez perca tempo a falar sobre isso)…
Créditos das imagens: Defesa de Espinho e site do MAI.



